O Brasil prepara o terreno para uma nova rodada de negócios no setor de telecomunicações. Vem aí a banda C – uma nova frequência de telefonia celular que promete movimentar algo em torno de US$ 10 bilhões em cinco anos. Os especialistas prevêem uma revolução. A explicação é simples: a chegada de mais concorrentes, que vêm se juntar aos operadores das bandas A e B já existentes, promete acirrar a disputa em torno do usuário, mexendo com as estruturas e as estratégias das empresas.

O consumidor deve ser o grande beneficiado. A expectativa é de que com mais competidores os preços caiam, fazendo valer a boa e velha lei da oferta e da procura. São aguardadas mudanças também nos serviços, que prometem maior sofisticação. Em paralelo, as companhias partirão para a segmentação, tratando os clientes com planos tarifários diferenciados, de acordo com a necessidade de cada um.
 

A revolução é aguardada para 2001, quando as novas operadoras pela banda C entram no mercado. A venda das licenças de operação deve ocorrer em outubro, com o início da oferta de serviços cinco ou seis meses depois. A banda C deve atrair para o Brasil grupos internacionais que ficaram fora da privatização do antigo Sistema Telebrás, das concessões para a banda B de telefonia celular e da venda das licenças para as empresas-espelho de telefonia fixa. Entre os potenciais participantes da briga estão as européias France Telecom, British Telecom e Deutsche Telecom, além das americanas AT&T, GTE e Omnipoint. Fora elas, companhias que já operam no País, como Telecom Itália, TIW, Bell Canadá e BellSouth, poderão ampliar seus mercados.
 

Banda C é como está sendo denominado no Brasil o Personal Communications System (PCS), nome internacional de um serviço celular que opera em uma faixa de frequência mais alta (pode ser 1.800 ou 1.900 megahertz). Originalmente, o conceito foi desenvolvido para oferecer serviços de alto valor agregado, mais exigidos pelo mercado corporativo, como transmissão de dados e imagem e acesso à Internet. Na prática, isso não ocorreu. O aprimoramento do celular digital normal, que hoje é capaz de fazer a mesma coisa em 800 megahertz, acabou com a festa do PCS. Assim, o PCS acabou se transformando em uma terceira banda, concorrendo diretamente com as operadoras A e B.

Tarifas menores – Essa briga agora chega ao Brasil. Jefferson Scalabrin, analista da consultoria americana Yankee Group, especializada em telecomunicações, aposta na redução entre 10% e 20% nos valores das tarifas, no primeiro momento. Resta saber se isso vai ocorrer mesmo. Afinal, o consumidor tem todo o direito de desconfiar. Vale lembrar que a entrada da banda B não significou nenhuma baixa radical nos preços. Em São Paulo, por exemplo, a Telesp Celular e BCP cobram valores muito semelhantes funcionando como uma espécie de cartel informal. A diferença é que o terceiro concorrente chegará em clara desvantagem, com a concorrência já instalada. Quando a banda B aportou havia apenas um operador e ele não conseguia atender à demanda. “Havia muito espaço para crescer e de maneira relativamente fácil”, explica o especialista em telecomunicação da consultoria A.T. Kearney, Jairo Okret. Hoje, a situação é outra. As ex-estatais do sistema Telebrás, da banda A, tiveram tempo para arrumar a casa e tornaram-se empresas competitivas. Não existe mais demanda reprimida. A conquista do cliente exige mais esforço e criatividade. É com base nesse cenário que se aposta na queda dos preços.
 

Como nenhuma empresa de telecomunicações sobrevive sem escala, as novas competidoras terão de atrair clientes que ainda não têm celular e forçar a migração dos assinantes das outras operadoras para si. “Uma das armas para se conseguir assinantes será a redução dos preços dos aparelhos. É preciso reduzir a barreira de entrada”, acredita Scalabrin, referindo-se ao preço médio de R$ 99 cobrado pelos aparelhos mais simples do sistema pré-pago. “Esse valor ainda é muito alto para o público das classes C e D.” Ele não descarta a possibilidade de os celulares serem gratuitos, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos. Lá, algumas operadoras oferecem o aparelho, na condição de que o cliente permaneça cativo por um prazo mínimo de um ou dois anos, dependendo do plano de tarifas. “É o tempo de garantir o retorno do investimento.”

Recorde – Embora não exista mais demanda reprimida no País, ainda há espaço para se vender celular. A taxa de penetração do serviço (número de usuários por 100 habitantes) ficou em 8,6% no final do ano passado, na média nacional. Mesmo na Grande São Paulo, o número é baixo se comparado aos de outros países. Situa-se em torno de 18% contra 40% na Europa, chegando a 70% em alguns países nórdicos. O Yankee Group projeta para o Brasil um índice de 26,7% em 2005. Mas em 2001 o jogo será decisivo. Espera-se para o ano que vem o ingresso efetivo de 7,2 milhões de novos clientes. O volume será o maior já visto pela telefonia celular brasileira. Até hoje, o recorde pertence ao ano passado, quando 7,1 milhões de pessoas aderiram ao aparelhinho.
Além das operadoras, outro grupo se movimenta intensamente: os fornecedores de equipamentos e sistemas de telefonia celular. Dependendo da frequência de operação escolhida pela Anatel (leia quadro), essas empresas prometem intensificar os investimentos em suas fábricas no Brasil para atender à nova demanda. Poucos revelam o tamanho da montanha de dólares a ser despejada por aqui. Um deles é a Ericsson. “Vamos investir US$ 70 milhões”, calcula Aderbal Bonturi Pereira, diretor de assuntos corporativos. Já a americana Lucent trabalha na definição de metas a serem alcançadas na banda C. “Temos 25% do mercado nacional de celulares e queremos atingir parcelas maiores com a nova frequência”, limita-se a dizer o diretor de marketing, Virgílio Martins.
 

Junto com a Lucent, concorrem Ericsson, Nortel, Nec, Motorola e Samsung. Do outro lado da balança ficam Siemens, Alcatel e Nokia, que ainda não participam do mercado brasileiro de infra-estrutura de rede celular. No entanto, podem entrar no páreo, caso a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) decida que a banda C deva operar com a mesma tecnologia usada na Europa. O crescimento do mercado brasileiro de telefonia celular também deverá refletir-se no número de empregos do setor. Okret, da A.T. Kearney, prevê um novo boom por mão-de-obra especializada, como pessoal para planejamento e manutenção de redes e call centers.