Como são os desígnios do Ibope que enchem barriga, Tom Cavalcante pode regalar-se. Após dez meses de turbulenta gestação, o parto do seu Megatom, no domingo 20, foi bem-sucedido entre o público. Garantiu média de 32 pontos, com picos de 37, deixando o Domingo legal, do SBT, bem lá trás. Mas, números à parte, ficou uma decepção no ar. Faltou o essencial a um programa que se propõe a fazer rir, ou seja, espontaneidade e boas piadas, curiosamente os ingredientes que sobram em Planetom, espetáculo do humorista, cartaz do teatro Procópio Ferreira, em São Paulo. No palco, Cavalcante é one-man show sedutor e desenvolto. Em seu programa solo na tevê, parece uma caricatura de si mesmo. Depois de tantas tentativas para encontrar o formato certo, o talento cômico de Tom Cavalcante surgiu sufocado em meio a excessivos números musicais. Só na estréia foram seis.
 

Num deles, a má edição imperdoável acabou com o quadro protagonizado por Ivete Sangalo. Na gravação, antes de cantar com ela a música Canibal, Cavalcante, fantasiado de troglodita, fazia uma paródia das atrações culinárias de Ana Maria Braga. Colocou a cantora num caldeirão como ingrediente principal de uma moqueca baiana. Nada disso foi exibido. Apareceram apenas os dois cantando, o que resultou numa sequência sem sentido. “Ainda não estou satisfeito, por enquanto só estou aliviado”, diz um resignado Cavalcante, depois da estréia insossa. Na realidade, ele acabou refém do horário das 16h. A receita global manda que haja musicais cheios de bailarinos, glamour brega e gente famosa. Mas Megatom foi idealizado para ser exibido à noite, o que demanda outro tipo de apelo. Com a mudança, por exemplo, perdeu-se criações impagáveis como o ginecologista gay, considerada inadequada para o novo horário.
 

Obrigado a conter o verbo, Tom Cavalcante acabou engessado. “Eu tenho que me adaptar. Quem quiser me ver esculhambado vá ao meu show. O teatro é um ambiente fechado onde as pessoas pagam para ouvir sacanagem”, avisa. Palavrões e piadas maliciosas, nem são tão essenciais. Basta ele fazer o que sabe: boas imitações e criação de tipos hilariantes. Não por acaso, os raros momentos engraçados de Megatom ocorreram quando ele encarnou o surrado bêbado João Canabrava, seu personagem mais popular. Tanto que Tom Cavalcante quer reforçar a participação de tipos como o ancião Venâncio ou a sogra impertinente e lançar mão de outras novas criações. Atrás de inspiração, o humorista tem conversado com amigos no Ceará, sua terra natal. “Sei que um deles está vendendo perfume em forró, que é para as pessoas chegarem cheirozinhas e saírem cheirozinhas depois de transpirar muito.” Sem dúvida, o caso pode render alguma criação melhor do que tanta cantoria.


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