No final do ano passado, o deputado Augusto Farias (PPB-AL) reuniu alguns amigos na mansão de Mangabeira, em Maceió, e fez um brinde. Mesmo indiciado como um dos responsáveis pelo assassinato de seu irmão PC, comemorou o fato de a CPI do Narcotráfico ter deixado o Estado sem citar seu nome. Doce ilusão. Os deputados saíram de Alagoas com uma vasta documentação e passaram janeiro analisando os papéis e a movimentação bancária de Augusto. Concluíram que já têm elementos para pedir a cassação do deputado. Os documentos e um computador apreendidos na Tigre Vigilância Patrimonial de Alagoas Ltda. comprovam que Augusto possui um patrimônio bem maior do que um apartamento, uma casa de praia e carros declarados no Imposto de Renda de 1998. Na quarta-feira 23, uma outra notícia atrapalhou ainda mais os planos de Augusto. O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, famoso por arquivar investigações que envolvem gente poderosa, resolveu alterar seu roteiro e encaminhou ao Supremo Tribunal Federal o processo que apura a participação de Augusto na morte de PC e da namorada Suzana Marcolino, em 1996. “Não há como afastar, de forma precipitada, a hipótese do envolvimento do deputado no duplo homicídio”, escreveu Brindeiro. Para firmar sua convicção, o procurador-geral baseia-se nos seguintes pontos: a farsa da versão do crime passional, sustentada por Augusto e pelo legista Badan Palhares; o empenho do deputado em defender os ex-seguranças de PC e o depoimento de Amira Lépore, vidente de PC localizada por ISTOÉ em setembro de 1999, que revela as brigas de Augusto e PC pelo controle do dinheiro. Segundo o procurador, as declarações de Amira evidenciam a motivação do crime. Em seu despacho de dez laudas, Brindeiro solicita à Polícia Federal mais três diligências, que deverão ser realizadas em 60 dias. Colher os depoimentos de Domingos Ramos e de dona Norma, secretária de

Amira, que testemunharam as brigas; acareação de Badan com a fotógrafa Noelandy Jimenez e o cinegrafista Donato Pasqual, para esclarecer se o legista mediu ou não o corpo de Suzana; e uma perícia nos sigilos fiscal e bancário de Badan. Após essas apurações, o STF poderá pedir à Câmara licença para processar Augusto. Os deputados da CPI estão aguardando o final dos trabalhos de técnicos da Receita e do Banco Central para oficializar a denúncia de quebra do decoro parlamentar e recomendar a cassação de Augusto. Os documentos em poder da CPI provam que a Tigre é uma empresa que fatura cerca de R$ 500 mil ao ano e tem como principais clientes empresas estatais alagoanas. Ela está em nome de Marcos André Tenório Maia e de Luiza Antonieta Taques. Maia já foi assessor de Augusto. Luiza é funcionária da Câmara desde 1992 e desde setembro de 1998 trabalha no gabinete de Augusto. “O dono da Tigre é Augusto. Maia é um testa-de-ferro”, diz um dos membros da CPI, que já pediu a quebra do sigilo bancário de Maia.

Conta corrente – Entre os documentos, perdidos em meio a mensagens de otimismo do tipo “para ser feliz comece o dia rindo para você mesmo”, estão diversos carnês de pagamento de Augusto, recibos de pensão alimentícia paga por Maia ao filho de deputado, resumo de contabilidade da empresa, ordens de pagamento, cobranças de faturas em nome de Augusto, dezenas de guias referentes à comercialização de gado, procurações dando poderes sobre propriedades em nome de irmãos de PC. Há, ainda, uma série de documentos que estão em análise na Receita e no BC. Na Receita, a sonegação praticada pelo parlamentar já é dada como líquida e certa. Na movimentação bancária de Augusto, porém, residem as maiores dúvidas da CPI. Até 15 de fevereiro, o BC havia encaminhado apenas o conteúdo de quatro contas. Duas poupanças no banco Bilbao Viscaya, em nome dos filhos de PC, abertas em 1997. Um conta corrente de Augusto no HSBC de Brasília, sem movimentação, uma poupança na CEF de Maceió, aberta em 1998 com R$ 8 mil e com saldo atual de cerca de R$ 9 mil e por fim a conta corrente no BB, onde o deputado recebe seu salário. “É curioso”, disse um dos mais atuantes parlamentares da CPI. “A movimentação é muito pequena para quem tem no mínimo os vencimentos de um deputado.” Na última semana, o BC encaminhou para a Câmara uma outra conta, do Banco Rural de Maceió, com um saldo de aproximadamente R$ 20 mil. “Ou algum banco está sonegando informações, ou o deputado guarda dinheiro no colchão, ou faz como o irmão ensinou: usa fantasmas”, conclui o deputado. A CPI apurou que a conta do Banco Rural demorou a aparecer por causa da ação do gerente da agência, a mesma onde alguns fantasmas de PC movimentaram milhões no início do governo Collor.


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