Barack Obama, que entre outros papéis se ocupa da missão de líder do mundo livre, está sendo crucificado por detratores em escala global e corre o risco de macular a aura de respeito que os EUA sempre buscaram cultivar entre países parceiros. Tudo devido às peripécias de espionagem, imoral e indevida, que sua equipe praticou contra chefes de nação e empresas mundo afora, bisbilhotando ligações telefônicas. O monitoramento das comunicações, e a consequente violação da privacidade de autoridades, indignou o establishment internacional e colocou em xeque a política externa de Obama e os planos de aproximação que estavam sendo implementados em quase todos os continentes. Depois da reprimenda pública e cobrança de explicações da presidenta brasileira, Dilma Rousseff, em plena ONU, foi a vez da alemã Angela Merkel. A chanceler não se fez de rogada ao saber que foi vítima da mesma arapuca americana que já havia capturado informações de emergentes como Brasil e México. Protestou, exigiu retratação e chamou de volta seu embaixador. No caso de Merkel, até mesmo o celular pessoal havia sido grampeado. Ao que tudo indica, Washington resolveu adotar táticas distintas, de acordo com o status do interlocutor, para abafar o escândalo. A estatura econômica e o peso de influência da Alemanha sobre a estratégica União Europeia revestiram a resposta a Merkel de um caráter de prioridade que não havia sido dispensado até aqui para o assunto. Demorou mais do que o recomendável – e mantém-se em suspense –, por exemplo, uma justificativa adequada para o episódio da gatunagem de dados dos brasileiros. Não por menos é que Dilma Rousseff resolveu se engajar pessoalmente na proposta de formulação de um plano mundial contra a violação de informações. Com o prestígio descendo ladeira abaixo, o presidente americano tem a espinhosa missão de contornar esse mal-estar. Diplomaticamente, a intromissão americana em assuntos de governos parceiros fez recuar anos de negociações multilaterais para o incremento das relações tanto comerciais como políticas. O democrata que havia se apresentado no primeiro mandato como promessa de poder moderador para a crise internacional converteu-se em um trapalhão execrado. O estrago de sua atuação está feito e a contraofensiva dos ofendidos deve ainda incomodar.