Nem deu tempo para comemorar. A Nortel, empresa canadense fabricante de equipamentos para telecomunicações, se preparava para anunciar na segunda-feira 16 a assinatura de um megacontrato de US$ 500 milhões quando a notícia começou a circular. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o órgão que regula as comunicações, baixou uma resolução em que obriga as operadoras de telefonia fixa a realizarem concorrência para a compra de equipamentos, dando preferência aos fornecedores nacionais, caso haja empate nos critérios de preço, prazos de entrega e especificações técnicas. Na prática, a medida representa uma volta da reserva de mercado nas compras acima de R$ 1 milhão. Até então, as negociações, que envolvem centenas de milhões de dólares, eram feitas de maneira privada desde a abertura do setor de telecomunicações. A Nortel teve de guardar o champanhe. Oficialmente, ninguém comenta o caso, mas a medida causou um mal-estar. "A Canbrá (a operadora espelho de telefonia fixa, que cobre 16 Estados, do Amazonas ao Rio de Janeiro) terá de enquadrar-se na resolução", diz o conselheiro da Anatel, Luiz Tito Cerasoli. "Mas eu rechaço a idéia de que se trata de uma reserva de mercado. É apenas uma não-discriminação da empresa brasileira." A Anatel poderá aplicar multas de até R$ 30 milhões.

Com a abertura do mercado brasileiro às empresas estrangeiras, a Nortel foi uma das pioneiras a romper a cartelização existente no setor. Quando antes eram feitas as concorrências para o fornecimento de equipamentos, o que não havia era disputa. Os fornecedores – todos com fábricas no País – eram quase sempre os mesmos. O jogo havia mudado quando o governo decidiu abrir a exploração da chamada banda B aos estrangeiros, que trouxeram tecnologia capaz de implantar com rapidez as redes de telefonia celular em todo o País. Só a Nortel ganhou três grandes contratos, multiplicando seu faturamento de menos de US$ 20 milhões para US$ 880 milhões em pouco tempo. Alguns adversários acusaram a empresa de comprar mercado ao praticar uma política de preços abaixo do custo para conquistar os contratos. A Nortel nega. "Temos bons parceiros globais", disse o diretor de relações com mercado, Luiz Cláudio Guimarães, antes de conhecer o teor da medida da Anatel. A enorme expansão da rede de telefonia fez a fabricante abrir uma fábrica na região de Campinas. Foi uma decisão que se incorporou à estratégia desenhada mundialmente pelos executivos no Canadá que incluíram o Brasil entre os sete centros de produção e desenvolvimento de tecnologia no mundo inteiro. A Nortel agora disputa aqui os contratos das demais empresas espelhos – Bonari e Megatel.