Quando o então presidente do Banco Central, Gustavo Franco, abriu as portas em 1997 para a entrada de novos bancos estrangeiros, o governo pretendia forçar de uma vez por todas a competitividade do sistema financeiro. A meta era reduzir tarifas bancárias, baixar juros e atender a uma população sem acesso a contas correntes por causa da baixa renda. Em resumo, o sonho da popularização do crédito. Três anos depois, a estratégia se mostra um fiasco. Mesmo com a chegada de instituições internacionais tão importantes como o britânico HSBC, os espanhóis Bilbao Vizcaya e Santander e com a compra do Real pelo holandês ABN Amro Bank, o volume de empréstimos em certos casos até mesmo caiu. Em maio de 1998, existiam R$ 30,5 bilhões financiados para pessoas físicas e 12 meses depois o montante baixou para R$ 29,5 bilhões, conforme dados do BC. A carteira geral de empréstimos aumentou só 2,1% e passou a R$ 257,2 bilhões. Um vexame. "Os bancos estrangeiros não expandiram suas atividades porque o próprio governo os brindou com a desvalorização cambial, as taxas de juros elevadas e não forçou a redução das tarifas. Com isso, as matrizes das instituições estão satisfeitas só com esses ganhos", explica Alberto Borges Matias, presidente da consultoria Austin Asis.

A crise econômica iniciada na Ásia e que atingiu de vez o Brasil em janeiro contribuiu evidentemente para estancar a expansão econômica e favorecer a opção dos bancos estrangeiros em viver só dos juros altos. Mas Carlos Coradi, presidente da consultoria EFC, ressalta que os novos bancos têm enfrentado também fortes problemas para se adequar à cultura. "O Brasil é enorme e essas instituições levarão dez anos para se adaptar", avalia. Até agora, porém, isso parece não preocupar demais os bancos, que não mostram grande motivação em diminuir suas taxas para conquistar mais clientela. No caso do HSBC, Maurício Alhadeff, diretor-executivo de varejo, afirma que o banco passou muito tempo reestruturando a rede de 981 agências. "Desde a compra do Bamerindus, nos dedicamos também em nos aproximar mais dos clientes já existentes. A partir de agora vamos procurar atrair novas clientelas e oferecer serviços como a possibilidade de saques em quaisquer das agências nos 79 países onde atuamos", afirma Alhadeff. O HSBC tem dividido suas agências em três categorias, sendo que na premium não há filas em pé: a clientela das classes A e B espera sentada para ser atendida. O lucro do banco saltou de R$ 20 milhões para R$ 176 milhões entre o primeiro semestre de 1997 e de 1999.

No Banco Bilbao Vizcaya, a situação é diferente. Ao adquirir o Noroeste e o Banco Geral do Comércio, em 1998, o banco prometeu ampliar de 220 para 774 agências até o final do ano que vem. Até agora, apenas sete agências foram abertas. "Acontece que tivemos de gastar US$ 100 milhões para mudar todo o sistema de informática, a fim de integrá-la à nossa rede mundial. Sem isso, não haveria como crescer", declara Luiz Cavalcanti Júnior, diretor de gestão. A instituição, que prepara também o lançamento de cartões que permitam saques da conta corrente ou da poupança no Exterior, até tem arriscado atrair clientes mais populares. Dá de brinde toalhas e lençóis para quem abrir uma poupança. Só que ainda é muito pouco para uma instituição que quer ser o terceiro banco privado do País e hoje está na 22ª posição. Cavalcanti insiste que o banco vai crescer muito. "Vamos ter mesmo uma rede de 774 agências até o final do ano 2000. Através da compra de bancos estatais como o Banespa ou de instituições privadas e abrindo unidades."

 

Sem revolução – Estas pequenas movimentações em busca de novos clientes são apenas preparativos para quando os juros caírem de fato e a concorrência se tornar definitivamente necessária. O Santander até que se mexeu mais em busca de clientes e criou produtos como o SuperCheque e o SuperCartão, onde as taxas de juros são menores conforme o cliente fica mais endividado. O que até parece uma incoerência para quem quer crescer com segurança, sem altas taxas de insolvência. Walter Shinomata, vice-presidente do banco, justifica a estratégia: "Inadimplência ocorre conforme o perfil dos clientes. Tentamos atingir o público correto através de análises de crédito." O Santander foi o que mais ampliou o número de agências, de 132 para 209. Mas tem se dedicado a atender um público mais selecionado. "Priorizamos as agências nas regiões Sudeste e Sul", afirma Shinomata. Justamente as regiões mais ricas do País. O que está longe de revolucionar o sistema financeiro, como pretendia o governo. O povão ainda vai ter de esperar.

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