Dona Inês Queiroz tem 84 anos. Mora em Ponte Nova, Minas Gerais. Ela é viúva há 41 anos e vive sozinha, contando com a ajuda de uma auxiliar de enfermagem. Ultimamente, entre as pouquíssimas coisas que a aborrecem, duas em especial a têm deixado um tanto menos contente: "Sinto não poder ler as cartas dos meus filhos nem acompanhar a missa", lamenta. Há quatro anos, por causa da idade, dona Inês começou a enxergar muito mal, fato que os especialistas chamam de visão subnormal. Trata-se de um problema decorrente da degeneração da mácula (região da retina responsável pela percepção dos detalhes e localizada no fundo do olho). "Legalmente esse estado é considerado cegueira", explica o oftalmologista Ricardo Guimarães, diretor do Hospital de Olhos de Minas Gerais, de Belo Horizonte. O problema, que se pode manifestar a partir dos 60 anos, é diferente de uma miopia ou astigmatismo. Quem sofre dele não distingue pessoas ou objetos e não consegue ler nem ver televisão, mesmo com óculos comuns. "A vista começou a afastar", lembra dona Inês.

Desde sábado 14, no entanto, o mundo promete voltar a ficar mais perto dela. Nesse dia, por meio de uma cirurgia inédita no País, dona Inês recebeu um implante de um Telescópio Miniaturizado Intraocular (IMT, sigla em inglês) – uma lente de três milímetros de diâmetro e 46 microgramas de peso que, ao ser colocada no olho, é capaz de aumentar as imagens em até três vezes e focar objetos situados de 30 a 80 centímetros de distância. Benefício que, com o auxílio de óculos especiais, pode se dar a partir de 15 centímetros. O procedimento, ainda experimental, foi feito no Hospital de Olhos de Minas Gerais. É parecido com o empregado na cirurgia de catarata. "A lente é colocada no lugar do cristalino, estrutura que foca a imagem na retina", explica Ricardo Guimarães.

A lente foi desenvolvida pela empresa israelense VisionCare e também está sendo testada na Europa. Ainda não há previsão de preço nem de quando começará a ser usada de forma comercial. "O conceito é bárbaro e promissor", diz Paulo Augusto de Arruda Mello, secretário-geral do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Mas exige cautela: "Ainda não há dados suficientes para saber o que pode acontecer com o olho a longo prazo", alerta Arruda Mello. Se tudo correr bem, o minitelescópio será uma excelente opção para substituir os telescópios convencionais e lupas usados por quem tem visão subnormal. Ou até mesmo os modernos scanners capazes de projetar numa tela, em tamanho aumentado, as letras de um livro. E tomara que dona Inês possa voltar a reconhecer o padre na missa e ler com os próprios olhos as notícias enviadas pelos filhos.

 

Esperança contra o glaucoma

Os avanços da medicina prometem ajudar também quem sofre de glaucoma, excesso de pressão no olho que pode danificar o nervo óptico e levar à cegueira. Isso porque uma nova droga (chamada aminoguanidina), que está sendo testada na Universidade de Washington (EUA), demonstrou ser eficaz para combater o óxido nítrico na retina, substância química que, em excesso, lesa o nervo óptico e causa a cegueira. A droga, usada apenas em ratos, age bloqueando uma enzima (NOS-2) que produz muito óxido nítrico em pessoas com glaucoma.