Desde que deixou a Rede Globo em 1982 para comercializar placas de publicidade em estádios de futebol, o empresário paulista J. Hawilla, palmeirense de coração e dono da Traffic – principal empresa de marketing esportivo do País – enfrentou nove anos de divã para superar o preconceito que, segundo ele, existe contra quem ganha dinheiro com futebol. Na verdade, o chororô é uma bobagem, porque com preconceito ou não ele está de bolsos cheios. Sabe-se que, neste ano, a previsão é de que Hawilla fature algo entre US$ 230 e US$ 250 milhões. "Todo mundo tem que ganhar bem", justifica. "Ainda acho que os salários dos craques brasileiros são baixos demais. Jogadores deveriam ganhar cachês como Mel Gibson e Bruce Willis porque eles são as estrelas do espetáculo. O futebol é o principal componente da indústria do entretenimento no mundo, pois movimenta US$ 250 bilhões de dólares por ano, enquanto a indústria toda fatura US$ 1 trilhão anuais."

A contundente defesa de Hawilla em relação aos cifrões no meio esportivo vai além de seus interesses já estabelecidos. Na terça-feira 15, ele engatou seu mais recente negócio. Trata-se de uma participação no canal esportivo Panamerican Sports Network (PSN), que, desde a semana passada, é transmitido para o Brasil pelas operadoras Net e Sky, ostentando a exclusividade para a tevê fechada de torneios importantes como a Taça Libertadores da América e Copa Mercosul. O canal será gerado de Miami e visto em toda a América do Sul – onde terá sete milhões de espectadores potenciais -, América Central, Caribe e Estados Unidos, claro. Seus donos são os mesmos do fundo de investimento americano Hicks Muse Tate & Furst – sócios de Hawilla -, que já agregam 49% da Traffic, a responsável pela programação nacional. O lançamento do PSN determina mais uma investida da Hicks Muse, via futebol, na televisão brasileira. Não por acaso, o grupo americano adquiriu o controle do Corinthians e do Cruzeiro e, caso a legislação brasileira permita, fará o mesmo com o Internacional de Porto Alegre e Botafogo do Rio de Janeiro, entre outros. Um trunfo considerável na hora de negociar direitos de transmissão com os concorrentes ou ter atrações exclusivas de peso para alavancar a audiência de seu canal. Na tevê aberta, a Traffic já controla toda a programação esportiva da Rede Bandeirantes e exerce uma forte ingerência no seu departamento comercial.

Tal avanço de tentáculos suscitou boa-tos de que a Traffic estaria negociando a compra da Bandeirantes. Hawilla nega. Mesmo assim, o poderio da Hicks Muse e seu canal de televisão começam a incomodar a Rede Globo, que sempre teve hegemonia sobre os direitos das transmissões e adequava o horário dos jogos aos interesses de sua programação. "O futebol é refém da televisão, que sempre fez o que quis com os jogos. É uma situação bizarra", define Hawilla, certo de que o jogo começa a mudar. E como. Há rumores de que o megaempresário da comunicação australiano, Rupert Murdoch, será o próximo a usar o futebol para ocupar espaço na televisão brasileira.