Imagine que lhe fosse dada a chance de começar a vida outra vez. Você escolheria seu sexo, profissão e personalidade. Decidiria namorar, casar e ter filhos. Ou permanecer solteiro, investir na profissão, construir um palacete e curtir o tempo livre na companhia dos amigos. Quem sabe até enveredar pelo submundo do crime ou da política. Assim, como na vida real, seu sucesso social e profissional dependeria de esforço e empenho diários. Nada acontece por milagre: é preciso estudar, ser criativo e ter carisma para contornar situações difíceis como arrumar emprego, evitar conflito com amigos, administrar melhor o tempo e viver em permanente bom humor. Quanto mais realizações afetivas, financeiras e sociais, maior a possibilidade de levar uma vida feliz. Se isso é impossível na vida real, já pode acontecer na virtual. Esse é o enredo do mais recente jogo de simulação para computador, The Sims (R$ 80), das empresas americanas Maxis e Electronic Arts, que chega às lojas nesta semana com manual traduzido para o portu-guês. O programa levou cinco anos para ficar pronto e oferece aos jogadores uma aula de humanidade. Guardadas as devidas proporções, é como assumir o papel de Deus por um dia.

Um dos desafios do jogo é administrar sua vida e a de sua família imaginária. Significa dar duro no trabalho, estudar nas horas vagas, dar atenção às -crianças e enfrentar uma segunda jornada de trabalho para manter a casa limpa e os eletrodomésticos, em ordem. Se faltar conforto, higiene, comida ou diversão, seu personagem vai reclamar e pode até morrer. No mundo das simulações, ninguém envelhece e um bebê leva três dias para virar uma criança. Mas algumas tradições permanecem: pessoas do sexo oposto podem até morar sob o mesmo teto, desde que seja para casar. Os romances acontecem também como na vida real. Ou seja, quanto mais amigos você conquistar, maior a oportunidade de encontrar seu par ideal.

O objetivo desse seu clone, ou Sim (como se chamam os membros dessa família simulada), é progredir na vida sem deixar de lado a felicidade. Existem dez áreas de atuação para escolher: medicina, exército, política, esporte, ciên-cia, crime, aventura, mundo dos negócios, da diversão ou da lei. Em qualquer carreira, começa-se pelo mais humilde dos cargos. Quem quiser ser cobaia de laboratório sabe que o dinheiro será curto no início, mas, dependendo da força de vontade, pode-se chegar a astronauta um dia – ou a larápio profissional. Assim como os seres humanos, esses clones virtuais gostam de morar bem. Por isso o jogador precisa construir sua casa, escolher piso, papel de parede, móveis e até a quantidade de banheiros. Nem sempre os moradores estarão de acordo. Em vez de comprar um piano, experimente levar para casa um telefone, que, além de mais barato, deixará seus familiares mais contentes porque poderão, enfim, encomendar uma pizza para o jantar. Os personagens também sofrem ameaças de incêndio, inundações e assaltos.

Depois que se definem a personalidade e as habilidades de cada simulacro, boa parte das ações depende de acontecimentos propostos pelo jogo. O relacionamento entre vizinhos e outras famílias é o melhor exemplo. Manter um convívio agradável com eles é indicador importante para a felicidade de seu personagem digital. Hoje é o próprio computador que cria as famílias da vizinhança. Não está distante o dia em que se poderá simular a convivência com outros Sims criados por amigos de carne e osso e enviados pela Internet até seu computador. Seria possível analisar, na prática, como funcionaria uma verdadeira comunidade virtual.


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