A Internet gratuita veio para ficar e ganhar dos provedores pagos. Ao menos é nisso que acredita o uruguaio Fernando Espuelas, presidente do portal de acesso e provedor StarMedia, voltado para os países de língua portuguesa e espanhola. Na quarta-feira 16, ele anunciou em Miami que passará a fornecer Internet grátis a partir de abril no Brasil, através do novo provedor Gratis1. O investimento na nova empreitada é de US$ 200 milhões para toda a América Latina. O Brasil é prioridade. Já existem oito empresas desse tipo no País, como a recente Tutorial, lançada na semana passada. Ao contrário de concorrentes como o UOL e Terra, que criaram empresas-irmãs para o acesso grátis, Espuelas, que está de mudança para São Paulo, optou por encerrar a cobrança e liberar de vez a navegação. Nesta entrevista concedida a ISTOÉ, Espuelas aponta erros de quem acreditava que a publicidade barata na rede seria compensada pelo acesso pago.

ISTOÉ Como o Brasil se encaixa na estratégia do Gratis1?
Fernando Espuelas – São Paulo é um de nossos mercados-chave. O desenvolvimento do mercado da Internet em São Paulo, e em todo o Brasil, tem sido realmente muito importante. Num primeiro momento nossos serviços do Gratis1 serão lançados no Brasil, no México e na Argentina. Depois para o restante da América Latina.

ISTOÉ Quais são as perspectivas para o mercado brasileiro?
Espuelas – A explosão dos provedores grátis é uma notícia muito positiva para o consumidor brasileiro. A massificação da Internet é uma das respostas para reduzir o problema do desequilíbrio social. Se conseguirmos que mais alguns milhões de brasileiros, especificamente das classes mais baixas, possam usar a Internet, isso ajudaria enormemente o País e a sociedade.

ISTOÉ O Brasil já tem provedores gratuitos. Como o sr. vê os seus competidores?
Espuelas – Bem, primeiro o nosso serviço não é apenas dirigido a um único país, mas para toda a América Latina. Através das parcerias que fizemos com a CMGI, que fornece a tecnologia, e com o Chase Bank investindo capital, temos a oportunidade de fornecer um produto diferenciado. Diferenciado não só para o usuário final, mas também para o anunciante. A possibilidade de apresentar publicidade personalizada nos dará uma vantagem competitiva.

ISTOÉ O que é exatamente esta publicidade personalizada?
Espuelas – Os usuários é que vão nos mostrar aquilo que desejam ver em termos de publicidade. Suas preferências de compras e interesses é que vão traçar um perfil do usuário e ajudar a personalizar a publicidade.

ISTOÉ Não há aí um problema de invasão de privacidade?
Espuelas – Nosso primeiro e maior compromisso é com a privacidade dos usuários. —Não vamos dar nenhum dado pessoal do usuário para os anunciantes. O que faremos, e aí está a diferença, é mostrar suas preferências de consumo, sem particularizar este ou aquele usuário.

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ISTOÉ Voltando à questão da concorrência no Brasil, por que o seu modelo tem melhores chances do que o deles?
Espuelas – As empresas que já estão no mercado não me parecem sustentáveis a longo prazo. Além disso, as empresas que têm um modelo misto, cobrando de um lado e dando de graça do outro, também são uma contradição. Uma empresa como o UOL, que tira o seu sustento da venda de acesso – tem um pouco de publicidade, mas ganha mesmo é com o fornecimento de acesso -, vai ficar numa situação muito difícil. Eles chegam a dar praticamente publicidade de graça. Cobram do anunciante R$ 5 a cada mil vezes que o anúncio é visto na tela. Se digo que meu produto vale R$ 5, não posso mais vender a R$ 60. Eles acreditavam que iriam destruir o mercado de publicidade baixando os preços e ganhariam na venda de acesso. Agora estão frente a uma situação em que o negócio de acesso vai morrer e seus preços de publicidade não lhe deixam margens de competitividade. Teremos acesso a custo zero, tecnologia muito boa, conteúdo muito bom; e a melhor força de vendas de publicidade do mercado. Não temos nada a perder.

ISTOÉ Mas por que o anunciante que pode comprar espaço no UOL por R$ 5 pagaria mais para anunciar na Gratis1.com?
Espuelas – Já dividimos clientes com o UOL. Há anunciantes que compram espaços nas duas empresas. E eles querem ser vistos por mais pessoas.

ISTOÉ Foi desencadeada uma verdadeira caça ao conteúdo pelos provedores. Como o sr. espera enfrentar este problema?
Espuelas – Já temos um excelente conteúdo no StarMedia. A iG já utiliza nosso conteúdo, usa o Guia São Paulo. Em todo caso, não é fácil colocar conteúdo suficiente numa plataforma. Nós temos dois estúdios muito importantes para o desenvolvimento de conteúdo. Um está no Rio e outro em São Paulo. Além disto, temos mais ou menos 50 parceiros de conteúdo.


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