A Internet brasileira entrou na rota internacional. Às 6h da manhã da quarta-feira 16, os executivos da PT Multimedia, subsidiária da Portugal Telecom, bateram o martelo e arremataram 100% do Zip.Net, empresa capitaneada por Marcos de Moraes, filho do ex-rei da soja, Olacyr de Moraes. Para levar o terceiro maior portal brasileiro e a maior base de assinantes de e-mail da América Latina, a PT Multimedia vai investir US$ 415 milhões – US$ 365 milhões na compra e outros US$ 50 milhões como aporte de capital. Detalhe: o principal atrativo do Zip.Net, o e-mail gratuito ZipMail, foi lançado há apenas 18 meses. Nem mesmo os executivos da empresa esperavam uma valorização tão rápida. "Ficamos surpresos com a velocidade", admite Fernando Telles, CEO (Chief Executive Officer) do Zip.Net.

As propostas de compra da empresa começaram no ano passado, quando os executivos faziam um "road show" (apresentações de negócios) nos Estados Unidos. "Nosso objetivo na época era captar investidores. No entanto, começamos a perceber que havia muita gente interessada em associar-se e até mesmo em comprar o Zip.Net", explica Telles. Daí para o início do namoro com os portugueses foi um pulo. Em janeiro começaram a negociar e menos de um mês depois o acordo estava fechado. "Entre todas as oportunidades, a parceria com a PT Multimedia era a mais atraente por proporcionar sinergia com uma empresa de telecomunicações e também porque a cultura das duas empresas é muito parecida", diz o executivo. O que muda daqui para a frente? No dia-a-dia da empresa, nada. Toda a diretoria será mantida, bem como os acordos comerciais. Para os funcionários, a principal diferença é que todos vão receber ações da companhia, que poderão ser negociadas num prazo de três anos. Os concorrentes, porém, devem ficar prevenidos. "Com a injeção de capital, o Zip.Net poderá ser muito mais agressivo na mídia e certamente vai incomodar os líderes", avalia Bruno Laskowsky, consultor sênior da área de e-commerce da AT Kearney. A PT Multimedia, por sua vez, contabiliza agora mais de três milhões de contas de e-mail e terá acesso aos cinco milhões de clientes de telefone celular que a Portugal Telecom tem no Brasil (Telesp Celular) e em Portugal.

No bilionário universo da Web, até mesmo concorrentes do Zip.Net reconhecem o sucesso da negociação. "É de tirar o chapéu, até porque ninguém sabe quando a empresa poderá dar lucro nem mesmo se isso vai acontecer um dia", alfineta um executivo. Em parte é verdade. Não bastassem os riscos inerentes a esse mercado, a Internet brasileira começa agora a se tornar um alvo natural para fusões e aquisições. Prever quem serão os jogadores de destaque e de onde eles virão exige, no mínimo, bola de cristal. De qualquer modo, há alguns sinais. Estimativas da Associação de Mídia Interativa (AMI) indicam que grupos estrangeiros devem injetar cerca de US$ 3 bilhões este ano em empresas brasileiras de Internet. "Os candidatos naturais são aqueles que têm acesso a capital barato, mas que já tenham algum negócio no Brasil", explica o consultor Las-kowsky. Como Internet e telefonia são caminhos que se cruzam, o mesmo raciocínio vale para a aquisição da empresa de tele-marketing Quatro/A pela Atento, subsidiária da Telefónica de Espanha. Na semana passada, a Atento levou a Quatro/A por R$ 250 milhões e com isso deve atingir uma participação de 9% no mercado de call centers. Não há dúvidas de que o estereótipo das "garagens", pequenas empresas de fundo de quintal, está ficando cada vez mais distante das novas e poderosas representantes da Internet.