Na noite de 11 de janeiro deste ano, o presidente Fernando Henrique Cardoso chamou o presidente do PMDB, senador Jader Barbalho, para uma conversa urgente no Palácio da Alvorada. "Não dá mais para aguentar o senador Antônio Carlos. A partir de agora, vou tratá-lo de outra maneira", avisou FHC após as ameaças de ACM de restringir o uso de medidas provisórias. FHC pediu a colaboração do PMDB contra o senador. Apesar de ter prometido ajuda, Jader deixou o palácio cético: em outras ocasiões, o presidente já havia feito desabafos semelhantes, mas sempre recuava na hora de enfrentar o todo-poderoso presidente do Senado. Desta vez, foi diferente. Começava ali a operação que resultou na terça-feira 15 na formação de um bloco somando o PSDB (103) ao PTB (24), que desbancou o PFL (101) da condição de principal partido na Câmara. Nas últimas quatro semanas, o alto tucanato fez todos os preparativos para o troco: consolidou a aproximação com o PMDB e atraiu para o ninho os petebistas e os evangélicos da Igreja Universal do Reino de Deus. Os tucanos só temiam que FHC, na hora de passar a perna no PFL, mais uma vez desse para trás. As dúvidas sobre a firmeza presidencial acabaram na terça-feira 8. Para irritação de Fernando Henrique, naquele dia o PFL lançou uma campanha pelo aumento do salário mínimo, com a apresentação de um cheque de US$ 100 com uma suposta assinatura de FHC. Uma semana depois, os tucanos colocaram na mesa a possibilidade de formar um bloco com o PMDB. O PFL reagiu em dois lances: ameaçou unir-se ao PPB de Paulo Maluf enquanto ACM corria ao Palácio do Planalto cobrando do presidente que segurasse os tucanos. Na realidade, o namoro do PSDB era com o PTB, tendo como última alternativa o ingresso em bloco no ninho tucano da bancada do "bispo" Edir Macedo.

Com a mudança na Câmara, o PFL perde o direito de escolher os dirigentes das principais comissões técnicas, a indicação dos relatores dos projetos mais importantes e a pole position na sucessão do presidente da Câmara. Para reduzir o estrago, o presidente do partido, senador Jorge Bornhausen, passou a defender a prorrogação dos mandatos dos atuais presidentes de comissões. Além de não convencer os outros partidos, ele enfrenta resistência do líder pefelista Inocêncio Oliveira, que, em campanha para a Presidência da Câmara, já havia loteado os cargos entre correligionários. Coube à governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), a reação que pode colocar o Planalto numa saia justa: ela promete que, a partir de 1º de maio, o salário mínimo em seu Estado será de US$ 100.