O presidente do Instituto Ayrton Senna, Viviane Senna, é a personalidade pública mais assediada no momento para disputar a Prefeitura de São Paulo pelo PFL ou PSDB. Até o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, chegou a sugerir o seu nome. O governador de São Paulo, Mário Covas, e o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, chegaram a sondá-la. Diante da reação negativa, aparentemente desistiram. Mas quem levou a idéia a sério e não deu mais sossego à irmã do piloto Ayrton Senna foi o presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães. Na noite do domingo 15, no programa Passando a limpo, de Boris Casoy, na Rede Record, o senador disse que sua candidata à Prefeitura de São Paulo seria Viviane. Em um encontro casual com ela dois dias antes num restaurante em São Paulo, ACM, bem ao seu estilo, foi bastante incisivo. Ela agradeceu, mas manteve-se firme. O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, foi o primeiro a pensar no nome de Viviane. ACM achou excelente e soltou o balão de ensaio na imprensa. Uma pesquisa do partido revelou que ela tem 52% de aceitação e 0% de rejeição. A psicóloga Viviane tem se destacado à frente do Instituto Ayrton Senna, hoje uma das mais atuantes organizações não-governamentais no País, que apóia projetos nas áreas de educação, artes e esportes para crianças e adolescentes. Na quinta-feira l9, ela deu a seguinte entrevista exclusiva a ISTOÉ:

ISTOÉ A sra. será candidata?
Viviane Senna – Não tenho nenhum interesse nem consigo me ver nessa posição. Não aceito nem aceitaria indicação para qualquer cargo governamental. Seja em São Paulo ou fora de São Paulo, para um ministério, uma prefeitura ou uma secretaria. Entendo que essa não seria a minha melhor contribuição ao País. Não preciso ser governo para ajudar o País. Quero esclarecer isso para acabar com essa confusão. Também, eu nem poderia. Pelo estatuto do Instituto Ayrton Senna eu não posso ter cargos políticos nem exercer apoios partidários. Estaria indo contra os princípios legais da própria instituição a que pertenço. Mas não aceito por uma questão ética.

ISTOÉ Como começou esse assédio?
Viviane – Eu acompanhei essas sondagens pela imprensa. E me manifestei declinando de um eventual convite. A questão pública não pode ser vista só do ponto de vista governamental, só como responsabilidade do Estado. O público é de todos nós, seu, meu, da dona de casa, do esportista. Portanto, quando a gente reduz o público ao governamental, estamos reduzindo uma questão maior a uma só força, a um só ator social. Nós precisamos fazer no País uma descolagem entre essas duas questões. Mais do que isso: vamos precisar de um esforço coletivo para dar conta de uma questão tão abrangente. Só que a gente costuma achar que todas as questões de ordem coletiva, como a educação, por exemplo, são um problema do Ministério da Educação. Então, não temos nada a ver com isso. A gente delega a responsabilidade das questões públicas ao Estado e se exime da responsabilidade. Assim, nós potencializamos demais o Estado e tornamos nossa posição extremamente frágil. E temos uma situação de impotência civil muito grande no País.

ISTOÉ O que a sra. propõe?
Viviane – Uma ética de co-responsabilidade entre o Estado, o privado e o Terceiro Setor (a sociedade civil). Precisamos adotar um novo paradigma, diferente do que esteve vigente nesses 500 anos. Todos nós somos responsáveis pelo País e por tudo o que é público, pela educação, pela infância. Cada um tem um papel nisso e você não precisa mudar de profissão nem se tornar Estado para ajudar o País. Você pode e deve ajudar, na sua função. Se eu adotasse essa opção (a candidatura), estaria indo contra tudo o que eu tenho falado e acreditado.

ISTOÉ Mas com o controle de uma administração não seria possível avançar esse processo?
Viviane – Até poderia. Mas isso seria reforçar o padrão anterior, onde só Estado tem a responsabilidade e poder para fazer. Eu não acredito nisso. Se eu passo a adotar o modelo de ir para o Estado e fazer alguma coisa a partir do Estado, eu estaria esvaziando a proposta que nós, como sociedade civil, também temos de assumir. Poderia até melhorar algumas coisas, mas não seria suficiente para superar o desafio maior que é viabilizar o País do ponto de vista social, econômico e político.