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Passei o último fim de semana com um Chevrolet Camaro. Novinho, modelo 2014. Já rodei com muitos carros que chamaram atenção nas ruas, mas o Camaro se superou. Sábado à tarde, embiquei o Camaro numa rua estreia e havia um grupo de garotos jogando bola. Fui devagarinho e dei sinal de luz para que eles interrompessem a pelada e me deixassem passar. Mas eles não fizeram apenas isso. Um garoto segurou a bola com a mão e o grupo de uns dez meninos formou um corredor para que eu conduzisse o carro dentro dele. Ao me aproximar, todos os garotos começaram a aplaudir o carro – foi como se eu tivesse ganhado uma corrida de Fórmula 1 e entrasse num funil de gente formado por mecânicos e fãs.

É impressionante como a General Motors acertou na mosca ao trazer o Camaro para o Brasil. Mesmo custando R$ 210 mil, a GM vende uma média de noventa Camaro por mês. Isso inferniza a vida dos altos executivos da rival Ford, que há três anos respondem a mesma insistente pergunta: “Por que vocês não trazem o Mustang?” Sempre dizem que estão estudando.

Enquanto a Ford estuda, a GM vai vendendo Camaro. Mas o que ele tem de tão especial? Para começar, seu motor V8 de 406 cavalos de potência, que emite um urro toda vez que você pisa forte no pedal do acelerador. Seu design encanta por ser másculo, imponente, diferente, atrevido. Os homens admiram o sujeito que está dentro dele, as mulheres sonham com o cara que pode ter uma máquina dessas. O Camaro transcende a análise normal de um automóvel, pois não é o mais bonito, não é o mais potente, não é o mais exclusivo, não é o mais rápido e também não é o mais caro. Só que a força de seu nome, combinada com as linhas arrojadas de seu corpo, mexem com o imaginário das pessoas como nenhum outro carro atualmente.

No mesmo fim de semana, o Camaro preto que foi aplaudido pelos candidatos a Neymar também fez um pai tomar coragem e me pedir para abrir o carro para seu filhinho de 4 anos ver como ele é por dentro. “Ele é apaixonado pelo Camaro”, disse o pai. No restaurante, a garçonete comentou que o carro era “maravilhoso” e depois foi escalada para tirar fotos de dois garçons ao lado e dentro do carro. Quando estacionei o Camaro numa praça, ao voltar havia um sujeito do lado do carro dizendo:

– Chamem minha mulher, ela precisa ver meu carro novo!

E os amigos:

– Olha o dono! Olha o dono!

Dentro de um Camaro, você realmente se transforma numa pessoa, digamos, “diferenciada”. Mas os outros não têm inveja – tem admiração, tem respeito. O Camaro talvez seja o melhor representante da sociedade do espetáculo, como explicada por Guy Debord, que faz as pessoas procurarem os objetos para aparentar uma personalidade ou um estilo de vida. Parafraseando Gertrud Stein em seu poema Sacred Emily, eu diria: “Um Camaro é um Camaro é um Camaro”.