18/07/2007 - 10:00
No final do mês passado, o brigadeiro José Carlos Pereira, presidente da Infraero – a estatal responsável pelos aeroportos do País -, recebeu em seu gabinete o ofício número 13017/DE/ 2007, assinado pela diretora de engenharia, Eleuza Terezinha Lores. No documento de duas páginas, colocando-se como porta-voz de engenheiros e arquitetos da empresa, Eleuza reclama das investigações externas e internas sobre possíveis desvios de dinheiro público praticados em diversos contratos da empresa. A diretora de Engenharia afirma que o fato de os funcionários terem que dar seguidas explicações atrapalhava o trabalho do dia-a-dia da empresa. Ela diz, ainda, que auditores internos têm sido mais rígidos do que os técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU) e sustenta que o processo investigatório não é correto. Depois de ler o documento, Pereira desabafou com um assessor: "Fiquei deprimido." O desabafo é pertinente. A Infraero vem sendo investigada pelo Ministério Público, pela Corregedoria Geral da União, pelo TCU e por duas CPIs, na Câmara e no Senado. E, em todas essas investigações, o que está se descobrindo é a existência de fraudes em várias áreas da empresa. Como ISTOÉ já revelou, segundo o TCU, todas as grandes obras em aeroportos estão com irregularidades, Mas elas existem também em contratos considerados pequenos.
Na contratação de propaganda colocada em 750 carrinhos de mala no Aeroporto Afonso Pena, em Curitiba, por exemplo, foram arrecadados R$ 31,5 mil. O contrato estabelece que a Infraero deveria receber R$ 15,7 mil, mas apenas R$ 810,02 chegaram à estatal, segundo relatório da Corregedoria Geral da União. No contrato para mídia em sete painéis, a Infraero teria de receber R$ 11,2 mil, mas só recebeu R$ 3,5 mil. "Se essas coisas acontecem em pequenos contratos, o que não dizer nos grandes?", indaga o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), presidente da CPI do Apagão Aéreo. Na terça-feira 10, os membros da CPI decidiram pedir a quebra do sigilo bancário de 15 funcionários da estatal, inclusive o da diretora de engenharia, que redigiu a carta ao presidente Pereira reclamando das investigações. "Vários funcionários fraudaram os contratos, superfaturaram obras e continuam com seus cargos. Esse pessoal precisa ir para a cadeia", diz Demóstenes.