Patricia Highsmith (1921-1995) – para quem um grande artista não pensa, mas se apaixona por uma idéia – costumava dizer que a inspiração para o adorável psicopata e falsário Tom Ripley surgiu numa madrugada, na praia de Positano, Itália. A escritora americana se "apaixonou" pela imagem de um estranho vagando por volta das seis da manhã, diante do verde translúcido do mar Tirreno e, a partir do episódio, criou uma das mentes mais perversas da literatura policial. Tom Ripley, criminoso amoral e elegante, desprovido de qualquer culpa, tornou-se personagem recorrente em cinco romances da autora. Figura cult, ele acabou chegando ao cinema através de O sol por testemunha (1959), de René Clement, e O amigo americano (1977), de Wim Wenders, sem falar em Pacto sinistro (1951), de Alfred Hitchcock, no qual o inadaptável dândi, ainda esboçado, é encarnado no cínico Bruno Antony, interpretado por Robert Walker. Na pele de Matt Damon, o assassino impune volta a dar o ar da graça em O talentoso Ripley (The talent Mr. Ripley, Estados Unidos, 1999), do inglês Antho-ny Minghella, cuja estréia nacional está prometida para a sexta-feira 18.
 

 Mais fiel ao romance The talent Mr. Ripley, de 1955, que o original nas telas, O sol por testemunha, o filme de Minghella consumiu US$ 40 milhões para acompanhar o anti-herói – agora levemente gay – por belos cartões-postais italianos, mergulhado na dolce vita dos anos 50. A sucessão de golpes sujos torna-se assim uma experiência estranhamente agradável. Pianista pé-rapado, pago por um dono de estaleiro nova-iorquino para ir à Itália tentar convencer o filho playboy Dickie Greenleaf (Jude Law) a retornar para casa, Ripley se encanta a tal ponto com o estilo de vida do jovem anfitrião e de sua namorada, Marge Sherwood (Gwyneth Paltrow), que logo no início do filme provoca uma tragédia. O que arrepiou os espectadores em 1959, quando Alain Delon vestiu com brilho o personagem, e agora se repete no jeito de bom-moço de Damon, é a forma impulsiva e eficiente com que Ripley age. Ele se livra dos que atrapalham seus planos da maneira mais prosaica. O sumiço que dá no amigo de Dickie, Freddie Miles (Philip Seymour Hoffman), golpeado na nuca com uma escultura, é uma daquelas cenas assombrosas que valem a ida ao cinema.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias