A vontade de iniciar uma atividade física é típica de início de ano. Um termômetro do quanto o interesse em atingir a boa forma aumenta nesta época é o número de matrículas nas academias. Só na Cia Athletica de São Paulo, os alunos inscritos em janeiro já ultrapassaram em 6% os do mesmo período no ano passado. O problema é que muita gente pode exagerar na dose e se machucar. Para incentivar a atividade física correta, surgiu o Ambulatório de Cardiologia do Esporte do Instituto do Coração (Incor), em São Paulo.

Criado há seis meses, o serviço coloca à disposição um check-up que inclui exame clínico e cardiológico. O objetivo é investigar as condições do aspirante a atleta antes que ele seja surpreendido, por exemplo, por uma dor no peito decorrente do esforço físico. "Com os resultados dos testes, o futuro atleta recebe a prescrição do exercício ideal", diz o fisiologista Carlos Eduar-do Negrão, coordenador do ambulatório. Na receita incluem-se o exercício mais indicado e a intensidade com que deve ser praticado.

Todo o cuidado faz sentido. Em uma triagem realizada entre 1,3 mil frequentadores do parque do Ibirapuera, em São Paulo, a equipe do Incor constatou que um terço possuía mais de dois fatores de risco para doenças cardíacas (86% tinha histórico familiar de doenças do coração, 23% sofria de hipertensão, 19%, colesterol alto, 17%, obesidade e 5% diabetes). "Nessa condição, se a pessoa não tiver meios de consultar um profissional, é melhor ficar parado", afirma Negrão. Sem saber dos riscos que corria, o comerciante Vanderlei Malho, 49 anos, foi internado duas vezes vítima de seus abusos atléticos. As corridas na praia, o futebol e as partidas de tênis esporádicos pioravam um quadro de hipertensão que Malho nem sequer imaginava ter. Com a orientação do Incor, Malho começou a correr três vezes por semana prestando atenção em seus batimentos cardíacos. Emagreceu dois quilos e a hipertensão está sob controle. "Valeu a pena pelo bem-estar e pela segurança que sinto", conta.

E não é só o coração que sofre. O número de atendimentos no ambulatório de traumatologia esportiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) sobe cerca de 30% no início do ano, quando as pessoas pensam que é só calçar o tênis e malhar. Como o coração não consegue bombear tanto sangue quanto a musculatura solicita, chega pouco oxigênio ao músculo. "A consequência é que há um aumento da produção de ácido lático, que causa cãibras e dores", explica o fisiologista Ivan Piçarro, da Unifesp.