Os nomes não poderiam ser mais bobos: Zubat, Gloom, Caterpie, Psyduck, Mankey, Ash e Pikachu. O quê? Você já ouviu falar em Ash e Pikachu? Então, pode continuar a ler essa matéria. Com certeza já identificou o assunto que será tratado aqui. Afinal, o seu bolso já conhece os Pokémons. Apenas o brinquedo chamado Game Boy com os cartuchos de jogos dos monstrinhos, por exemplo, é capaz de diminuir a sua conta bancária em mais de R$ 700. No último Natal e recomeço das aulas, centenas de pais foram capturados por mochilas Pikachu — um ratinho elétrico com o rabo em forma de raio e poderes eletrizantes –, álbuns de figurinhas da turma, chaveiros, canetas, cadernos, cards, bonés do garoto Ash. Enfim, todas as bugigangas possíveis e inimagináveis dos personagens da hora. O angustiante, talvez, não seja tanto o arrombamento de sua poupança, mas a impossibilidade de um diálogo compreensível com o seu filho ou filha. Afinal, o que é Pokémon? E qual a graça daquele desenho que está todos os dias na tevê (Record e CartoonNet-work)? E o filme, então? É uma continuação do jogo?

Vamos por partes. Em primeiro lugar, saiba que Pokémon nada mais é do que a tradução de monstrinhos de bolso (ou algo parecido). Toda a história (se é que existe alguma) gira em torno dos 150 seres pequenos e estranhos que vivem para lutar entre si. O personagem principal é o garoto Ash, que tem como objetivo colecionar Pokémons. Difícil entender? Nem tanto. Se nos remetermos à história dos Pokémons vai dar para perceber por que colecionar é a meta de Ash. Os personagens foram criados por um jovem japonês chamado Satoshi Tajiri que passou a infância catando e colecio-nando insetos e girinos. Tajiri é o que os japoneses chamam de otaku: pes-soas alucinadas por games, que preferem o universo virtual ao real e amam colecionar qualquer coisa. Logo, Ash é a imagem e semelhança de seu criador. Ele tem uma missão: capturar essas cria-turas e treiná-las para grandes batalhas. Quanto mais bichinhos capturados, mais forte Ash ficará como treinador de Pokémons e ganhará insígnias de todos os tipos e graus. São eles que identificarão o seu poder. Para tanto, vive inúmeras lutas, aventuras e desafios.

Junto com Pikachu, seu Pokémon de estimação e mais outros amigos, o garoto enfrenta gangues de treinadores e clones de Pokémons que se acreditam maléficos – mas não são. No fundo, todos são do bem e têm sentimentos humanos, como o medo e a raiva. O garoto fluminense Luan Pedrozo, dez anos, um pokémon-maníaco, sabe de cor o nome dos 150 personagens e, ninguém duvide, vai soletrar os 111 que ainda faltam ser lançados. "Cada Pokémon tem um poder diferente do outro e existem muitas regras para as lutas valerem. Uma delas é nunca usar um monstrinho de água contra outro com poderes de fogo", conta o menino. "A água não apaga o fogo? Então o Pokémon da água é mais forte que o do fogo e aí a batalha se torna uma covardia!"

Satoshi Tajiri levou seis anos para convencer a Nintendo que o Game Boy não estava ultrapassado. A empresa resolveu apos-tar, relançou o joguinho com os Pokémons e foi o maior sucesso. Depois virou cartoon e todas as quinquilharias que os talões de cheques reconhecem de longe. É… tão cedo o negócio não vai parar por aí.

Mas Luan, o sabe-tudo, não perde nenhum lançamento de Pokémon. Mal o primeiro (e ainda único) filme entrou em cartaz, ele se empoleirou na primeira fila do cinema. E, como a maioria das crianças, Luan adorou o longa-metragem. E se emocionou também. Prepare seu fôlego para a explicação: "Algumas partes me deixaram triste", conta o rapazinho. "É quando Ash quase se sacrifica para poder salvar todos os Pokémons capturados por Mewtwo que quer dominar o mundo. Mas Mewtwo não é do mal. Ele foi criado por DNA, numa experiência em laboratório. É um clone do Mew e, por isso, ganhou o nome de Mew-two, um Pokémon evoluído."

Deu para entender? Para Luan e todos os outros fãs do Pokémon, não existe nenhum mistério. Para eles, os clones de laboratórios já deram certo, DNA é uma sigla comum e falar sobre seres evoluídos é tão natural quanto o Manda-chuva brigar com o Guarda Belo. Não existe um personagem totalmente do mal e ninguém morre nas histórias. Luan só não entende uma coisa: como o desenhista conseguiu imaginar tantos seres interessantes e histórias malucas no nosso planeta: "Ele poderia ter inventado uma outra galáxia, não é? Mas tudo acontece aqui na Terra mesmo, o que é bem legal." Seriam os Pokémons uns duendes high-tech? Ou tudo é muito mais simples como o mundo das crianças e complicado como o universo dos adultos? O lance é ter paciência, tentar ver um capítulo do desenho animado, ouvir atentamente cada explicação do pimpolho e estar com a imaginação aberta. Se, depois de tudo isso, você ainda continuar boiando no assunto, relaxe e acredite: o desenho é genial.