Assista ao trailer de “Capitão Phillips”:

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Produtores de cinema estão sempre de olho na lista de best sellers. Com enredo já aprovado, a chance de uma adaptação dar certo é grande. Agora andam muito ligados nas manchetes de revistas e jornais: se um fato jornalístico comove de forma massiva, a probabilidade de chegar às telas tem aumentado – e num espaço de tempo cada vez mais curto. Não existe melhor exemplo que “Capitão Phillips”, thriller estrelado por Tom Hanks, em cartaz na sexta-feira 8 – sim, a palavra certa é thriller, porque é embalado nesse ritmo alucinante que se assiste à adaptação do episódio, fartamente coberto pela imprensa, do sequestro do navio americano por piratas da Somália, há quatro anos. Outra produção que se mostra oportunista é “O Quinto Poder”, em exibição nos EUA, sobre os vazamentos de segredos de Estado e de empresas pelo site WikiLeaks, criado pelo australiano Julian Assange,papel de Benedict Cumberbatch. Não importa se o caso jornalístico é um atentado terrorista, uma chacina numa escola ou uma intervenção dos EUA em algum país do Eixo do Mal. Se o fato tirou o sono de estadistas e emocionou o público, vai emocionar ainda mais o espectador de cinema, essa é a lógica que não surpreende Hanks, também produtor: “Os estúdios gostam dessas histórias porque as conhecem, são familiares”, disse no lançamento de “Capitão Phillips”.

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VERDADE OU MENTIRA?
Tom Hanks (Capitão Phillips) e os piratas somalis: a tripulação real
diz que o chefe não é herói e que a narrativa é falsa

Diretor de “Carandiru”, sucesso baseado em fatos reais, Hector Babenco vê no filão mais um sintoma da crise criativa do cinema americano. “Eles repetem uma fórmula e essa parece ser a que está dando certo no momento”, afirma. Os chamados “real life dramas” (ficção sobre a vida real) sempre existiram, mas andavam distantes com o crescimento dos blockbusters repletos de efeitos especiais. Em 2010, só havia um filme do gênero entre os dez concorrentes ao Oscar. A virada se deu no ano seguinte com “A Rede Social”, que ganhou três estatuetas. Na mais recente edição, “A Hora Mais Escura” foi indicado a quatro categorias, inclusive a de melhor filme. O grande problema com o filão turbinado de hoje é que, se foge da realidade por necessidade narrativa, pode surtir efeito contrário e afastar o mesmo público que antes se interessou pelo assunto. O WikiLeaks detestou o “O Quinto Poder”, achou que o diretor Bill Condon endossou a visão dos governos sobre a liberdade de informação. A sorte não tem sido melhor para “Capitão Phillips”:

a tripulação do navio acusa a obra de ser “uma grande mentira” e de ter transformado o imprudente chefe do navio em um herói (ele foi advertido dos riscos e, mesmo assim, viajou muito próximo da costa da Somália). “Phillips não era esse grande líder que se vê na tela”, disse um dos tripulantes ao jornal “The New York Post”, sem se identificar, já que vendeu os direitos para o estúdio Sony com a condição de não revelar nada sobre o episódio.

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Em defesa de sua adaptação, o diretor Paul Greengrass declarou: “Cinema não é jornalismo, muito menos história”. Escrevendo atualmente um roteiro do gênero, “Nêmesis” (direção de Fernando Meirelles), sobre a rivalidade entre a família Kennedy e Aristóteles Onassis, Bráulio Mantovani acha que o fiel da balança permanece sendo o talento. “Fatos reais são necessariamente filtrados pelo escritor em seu processo criativo. O resultado pode ser bom ou ruim, isso depende de quem escreve e da inteligência dos que estão à sua volta, que são o diretor e os produtores”, afirma.

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