Quando o respeitado advogado britânico Edward Branson viu o seu filho Richard indo muito mal nos estudos e inaugurando dentro de casa um comércio para venda de LPs, no final dos anos 60, sentenciou que ele “não iria ser lá muita coisa na vida”. O presságio do pai piorou ainda mais quando o filho adolescente e seus colegas fizeram dívidas para ampliar o negócio e começaram a driblar os credores. Quando batiam à sua porta, Richard mandava dizer que não estava em casa. Pois bem, o sisudo pai errou: hoje, aos 56 anos, Richard Branson é dono de uma fortuna estimada em US$ 3,2 bilhões, esbanja excentricidade e atrai cada vez mais publicidade. E já alcançou o céu: na semana passada, ele apresentou em Nova York o protótipo de seu primeiro ônibus espacial que levará turistas a uma altitude de 100 quilômetros, na fronteira entre a Terra e o cosmos. O nome dessa sua mais nova empresa é Virgin Galactic. Cada passagem em seu ônibus SpaceShipTwo custa US$ 200 mil. E já se pode contar 160 milionários na fila de espera.

Há no mundo quem tenha feito, de tudo, um pouco. Richard Branson fez de tudo, muito. Impulsivo e hiperativo, ele já participou do seriado americano Friends numa ponta como camelô. Roubou a cena pelo ridículo de sua atuação, mas, a julgar pelos auto-elogios, cobriu-se de glórias. Richard também já se arriscou pelos ares com a empresa Virgin Atlantic Airways, tentou dar a volta ao mundo em um balão e se aventurou a atravessar o Canal da Mancha a bordo de um veículo anfíbio que não completou o trajeto. Foi resgatado no meio do caminho e garantiu a festa dos fotógrafos de plantão.

O resultado de tanta inquietação e ambição é que Richard se tornou atualmente um megaempresário e tem seu nome ligado a setores tão diversificados como aviação, celulares, hotéis, gravadoras, refrigerantes, vinhos e trens, tudo isso com a marca Virgin Group – são mais de 200 empresas em 30 países. Como ninguém é perfeito, os serviços de trens da Virgin são considerados “bastante ruins” para os padrões britânicos, o que não impede o magnata de cobrar bem caro pelas passagens.

Na área estritamente financeira, ele criou um fundo de investimento, mas a coisa não funcionou direito e muita gente arcou com prejuízos. Tudo bem, Richard nunca perde a pose. E pode-se medir a sua determinação e o seu carisma pelo metro de alguns de seus próprios adversários. Há quem diga: “Richard Branson é tão carismático e tão empreendedor que é difícil ficar bravo quando se perde dinheiro com ele.”

Na verdade, aos 24 anos e pouco depois da fase de driblar os credores, Richard já começava a ganhar muito dinheiro com a sua gravadora Virgin Records que ousou contratar a banda Sex Pistols e se pôs a difundir o movimento punk. Desde então, a sua trajetória empresarial, marcada por ganhos fabulosos, fino faro e muita excentricidade, disparou. Em 1984, por exemplo, ele anunciou a criação da Virgin Atlantic Airways e a reação das concorrentes foi de incredulidade no sucesso de seu negócio. Richard comprou um velho avião da Aerolineas Argentinas, lotou a aeronave de artistas e formadores de opinião e fez um vôo inaugural. Criou-se então o slogan de que as suas viagens eram “as mais divertidas”. A frota cresceu e passou a ligar Londres a diversos pontos do mundo. Quando ele percebeu que o negócio ia afundar em dívidas, veio a jogada de mestre: conseguiu vender 49% das ações para a Singapore Airlines, uma das melhores empresas aéreas do mundo.

Agora, com o anúncio de seu ônibus espacial pela Virgin Galactic, a sua principal concorrente, a americana Space Adventures, mostra muito respeito e nenhuma incredulidade. Motivo: os seus vôos suborbitais, em jatos adaptados, chegam a 13 quilômetros de altitude. O ônibus de Richard Branson, orçado em US$ 100 milhões, promete alcançar os 100 quilômetros e dará aos turistas espaciais a possibilidade de admirar a Terra lá do alto, durante 20 minutos, através de 15 janelas. Resta saber, ainda, o que o adolescente que “não daria certo na vida” fará a seguir, após a sua fase cosmonáutica. Mas uma coisa é certa: nem o céu será o seu limite.