A lentidão e a dificuldade do presidente da República em tomar decisões são explicadas pelos seus assessores mais fiéis como uma característica de sua personalidade. Para eles, Fernando Henrique busca sempre o consenso e, para alcançá-lo, gasta boa parte do tempo em complicados processos de convencimento da sua base aliada – cada vez menos aliada, diga-se de passagem. E esta particularidade, ainda segundo seus assessores, dá a impressão de que o governo carece de governabilidade. A questionável eficiência desta característica de FHC, já demonstrada na recente greve dos caminhoneiros que parou o País, vai ainda passar por vários testes. Por exemplo, está programada para a terça-feira 17 uma manifestação de produtores rurais às portas da casa do presidente para renegociar uma dívida de R$ 30 bilhões. Por sua vez, aqueles mesmos caminhoneiros, demonstrando que gostaram da primeira experiência, prometem repeti-la a qualquer momento. Já a oposição quer levar a Brasília 100 mil pessoas para protestar contra a atual penúria econômica do País.

Duas pesquisas revelam que o sentimento da falta de governabilidade é forte. As crescentes liminares concedidas pelo Judiciário contra a CPMF também são reflexo dela. Mas o mais sintomático é que a campanha pela sucessão de FHC já está nas ruas. E ainda falta um bom tempo até 2002. Há candidato que já tem até adesivo pronto, como se pode ver na coluna Fax Brasília. Este vazio deixado pela falta de governabilidade permite que as portas do armário sejam abertas e dele escapem antigos fantasmas. Na reportagem de capa, a subeditora Ana Carvalho e o fotógrafo Ricardo Stuckert mostram, num primoroso trabalho, como foi a festa dos 50 anos do ex-presidente Fernando Collor de Mello e quais são seus planos para tentar ocupar os espaços vazios deixados pela falta de iniciativa.