Duas histórias dramáticas envolvendo crianças e desaparecimentos mobilizaram a imprensa mundial e a opinião pública nos últimos tempos. Basta ligar a tevê para saber dos últimos acontecimentos em torno do sumiço da britânica Madeleine McCann, de quatro anos, em Portugal, e do abandono da chinesa Qian Xun Xue, três, na Austrália. No caso de Madeleine, a comoção foi tanta que a escritora J.K. Rowling, criadora de Harry Potter, e o jogador de futebol David Beckham vieram a público pedir que ela seja encontrada.

O papa Bento XVI recebeu os pais de Madeleine, um site oficial e um fundo financeiro, que já soma R$ 4 milhões, foram criados para ajudar nas buscas. O abandono de Qian e o sumiço de seus pais também ganharam as manchetes de jornais do mundo todo e mobilizaram polícias em três países: Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos.

Enquanto isso, os desaparecidos no Brasil seguem no ostracismo. Estima-se que, a cada ano, cerca de 40 mil ocorrências de desaparecimento de crianças e adolescentes sejam registradas nas delegacias do País. A grande maioria é solucionada nos primeiros dias. Mas entre 10% e 15% dos desaparecidos – algo em torno de cinco mil pessoas – permanecem com paradeiro desconhecido por anos ou jamais são encontrados. A face humana desta dramática estatística é Willyan Ferreira Vital, de dois anos e sete meses, visto pela última vez na manhã do dia 23 de julho.

A história de Wyllian rende um triste enredo. Filho da manicure Ana Paula Ferreira, 22 anos, e do pastor evangélico Lúcio Benevides, 33, Willyan nasceu em Campinas (SP). Após quatro anos de casamento e cansada das agressões físicas do marido, Ana decidiu deixálo e se mudou com o filho para a casa da avó. Lúcio seguiu para a casa de sua mãe, em São Paulo. Duas semanas depois, em 15 de junho, aproveitando- se do fato de que Ana estava no trabalho, Lúcio pegou Willyan dizendo que o levaria ao cinema e não devolveu o menino.

Começou aí um drama ainda sem fim. Auxiliada por um advogado, Ana pediu a guarda da criança. Um mês e meio mais tarde, de posse do documento e na companhia de um oficial de Justiça, ela foi ao encontro de Lúcio na expectativa de rever o filho. Lá, surpreendeu-se com a notícia de que o marido havia se suicidado, uma semana antes (em 24 de julho). "Quando perguntei por meu filho, disseram que achavam que ele estava comigo", conta Ana. Willyan foi visto pela última vez um dia antes do suicídio do pai. Lúcio deixou a casa da mãe dizendo que levaria a criança para a casa de uma "irmã da igreja". O pastor havia cumprido pena por homicídio e se tornou evangélico. Ele voltou à noite sem a criança e, quando foi questionado, disse que tinha deixado o menino com a tal "irmã". No dia seguinte de manhã, foi trabalhar e, ao meio-dia, seguiu para o Shopping D. Às 17h34, ele se jogou do último andar do prédio e caiu entre a praça de alimentação e o parquinho infantil. Testemunhas disseram que antes de pular ele ainda gritou: "Fui!"

A intenção de se matar foi transmitida mais de uma vez a Ana, que nunca acreditou. Uma das vezes, inclusive, disse que mataria o filho e depois tiraria a própria vida caso Ana não desistisse da separação. Ela conta que, horas antes de se jogar, ele deixou um recado com um parente dizendo que tinha escondido o menino e ela nunca mais o encontraria. O pesadelo virou realidade. "Não vejo a hora de ter o meu filho de volta", diz Ana. Solange Benevides, irmã de Lúcio, tem outra visão da história. "A Ana poderia ter evitado essa tragédia", afirma. "Uma vez meu irmão quis entregar o bebê em troca de visitá-los nos finais de semana e ela disse que não queria mais vê-lo, que ia conseguir isso na Justiça", diz. A polícia continua investigando o sumiço e não descarta homicídio.

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Encontrar uma criança desaparecida no Brasil está longe de ser tarefa simples. Além de sua grande extensão territorial, o País não possui um registro nacional de desaparecidos. Para Eric Winandy, presidente da Associação Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas, é importante frisar que o sumiço de uma criança deve ser registrado o quanto antes para as buscas começarem rápido, pois assim existem mais chances de ela ser encontrada. "Muitos pais ouvem nas delegacias que o boletim de ocorrência só pode ser feito 24 horas depois do acontecido", diz ele. "Não há lei que determine isso", alerta.

 


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