No ano em que se comemora o centenário do escritor americano Ernest Hemingway, que se matou em 1961 em meio a uma crise de depressão provocada, entre outros misteriosos motivos, pela angústia de não mais conseguir criar obras à altura de suas próprias exigências, é no mínimo curioso ler o mais recente livro do seu compatriota Stephen King, Saco de ossos (Objetiva, 754 págs., R$ 44). É que depois de lidar com os medos infantis em títulos como A coisa e com os pavores da sexualidade adulta como em Jogo perigoso, o autor de 52 anos se volta agora para um temor muito próprio – o do bloqueio de escritor. O mal que ele garante atingir a todos os seus colegas de profissão num momento ou noutro da carreira é o ponto de partida para este livro que vai pegar os amantes do gênero do jeito que eles gostam: arrebatadoramente.

A história básica de Saco de ossos começa com a morte absurda da mulher de um escritor razoavelmente bem-sucedido, em uma tarde de sol. A partir daí, ele se sente bloqueado para escrever novas histórias – e só vai retomar o trabalho quando voltar a uma antiga e (claro!) mal-assombrada casa de verão, na qual encontrará um suspense envolvendo todos os habitantes da pequena cidadezinha do Estado americano de Maine. Curiosamente – e bem ao estilo de King, que adora envolver os objetos mais cotidianos nas manifestações do sobrenatural –, desta vez os espíritos se mostram através de ímãs de geladeira.

Se Saco de ossos pode ser classificado como um autêntico Stephen King das melhores safras, ele não deixa também de mostrar um autor amadurecido, que resolve se divertir um pouco ironizando seus próprios críticos e incluindo em seu roteiro homenagens debochadas a alguns de seus mais conhecidos concorrentes nas listas dos best sellers americanos. A título de ressalva, é preciso questionar apenas a pressa com que a obra foi editada no Brasil – são três revisores e uma quantidade absurda de erros de português. Será que os editores pensam que os leitores de Stephen King são menos atentos que os de autores considerados mais sérios?