Contrariando a maioria de seus colegas, que se aventuram pelo terreno das perversões, da morbidez e da loucura com a sutileza de uma manada de elefantes, o escritor inglês Patrick McGrath prefere contar suas histórias de horror gótico com elegância, deixando patente sua aversão por detalhes desagradáveis. As cenas violentas, a patologia dos personagens e a sordidez dos ambientes são descritas sem nenhum estardalhaço, mas ainda assim fortes o suficiente para cativar o leitor, aguçando-lhe a curiosidade. Esse aliciamento contínuo, uma das marcas registradas da obra de McGrath, está presente em Manicômio (Companhia das Letras, 256 págs., R$ 26), seu quarto romance. Através do narrador Peter Cleave, psiquiatra de um manicômio inglês, acompanhamos a triste história de Max Raphael, vice-diretor da instituição, e de sua mulher, Stella, uma sinistra combinação de tédio e "seios fartos". Stella acaba se apaixonando por um dos pacientes e, deixando para trás o filho de dez anos, abandona a cidade, provocando a desgraça do marido.

Com frieza profissional, o narrador descreve a obsessão sexual que envolve Stella e seu amante, um artista marginal que foi internado após haver assassinado e decapitado a mulher, cuja cabeça utilizou em uma escultura macabra. A preocupação de Cleave é a de evitar que a tragédia se repita com a companheira do colega. McGrath, hoje com 49 anos, ambientou a história no final da década de 50, exatamente o período em que viveu no hospital psiquiátrico Broadmoor, perto de Londres, do qual seu pai era diretor. Essa familiaridade transparece no cuidado com a construção – e consequente destruição – dos personagens e no apuro de suas descrições, que só colaboram para tornar o livro ainda mais aterrorizante. Pois, quando nos damos conta, percebemos que todo esse esmero não passa de uma armadilha para nos envolver na loucura que julgávamos estar apenas contemplando.