Para ser colocado de pé, tamanho o arrojo do projeto da arquiteta Lina Bo Bardi, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) levou oito anos. Numa empreitada vagarosa, o arquiteto Júlio Neves, atual presidente do Masp, está há mais de dois anos mergulhado na revitalização do edifício. Não é apenas a reforma, contudo, que tem relegado o Masp a segundo plano. Ano a ano, sua programação tem perdido o brilho para espaços como a Pinacoteca do Estado e o Museu de Arte Moderna (MAM) carioca e paulista. No primeiro semestre de 1999, por exemplo, sua agenda foi quase inexistente, com o cancelamento de várias mostras importantes.

Na tentativa de reverter o quadro trágico para os amantes das artes plásticas, a diretoria do museu resolveu valorizar a prata da casa. Depois de o prédio ter sido fechado por três semanas para a troca do ar-condicionado, foi inaugurada na sexta-feira 6 a exposição Degas e o movimento, com 96 obras do acervo dando destaque para a escultura Bailarina de 14 anos, do impressionista francês Edgar Degas (1834-1917). Não é apenas o pequeno número de exposições relevantes que vem sendo criticado por gente da área. A própria linha da programação adotada nos últimos tempos passou a ser duramente questionada como lembra a historiadora e crítica de arte Aracy Amaral, ex-diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC). "O Masp foi o grande museu da cidade e está em estado de letargia, não emerge na cena contemporânea brasileira com um projeto de exposições, curadorias ou uma atividade cultural propriamente dita. Acho triste."

Neves rebate os ataques. "Durante as reformas, fizemos dez grandes exposições, entre elas as de Monet, Michelangelo e Dali." Mas é a qualidade destes megaeventos que vem sendo colocada em dúvida por galeristas como Marcantonio Vilaça. "Hoje o Masp parece uma nau sem rumo. Sem dinheiro, espera os projetos caírem do céu, o que o torna um espaço de aluguel." Luisa Strina, dona de uma das mais prestigiadas galerias paulistanas, concorda com o colega. "A equipe que hoje dirige o museu não tem um projeto cultural. Só compra pacotes de mostras medíocres de grandes artistas com o intuito de conseguir um grande público."

O crescimento de público do Masp foi um dos motivos alegados para algumas das reformas, como a instalação de um novo elevador com acesso até o segundo subsolo, permitindo assim o trânsito de deficientes físicos. Em 30 anos de existência, a construção elogiada mundo afora não sofreu uma manutenção adequada. "Pegamos um prédio que lamentavelmente – não devido ao desleixo de diretorias anteriores, mas por uma questão de recursos – entrou em processo de deterioração. Não adiantava resolver um só problema", diz Neves. Dentre as melhorias, orçadas em R$ 16 milhões, estão a troca do piso e do ar-condicionado, a impermeabilização do vão livre e dos jardins, a recuperação das janelas, instalações elétricas, hidraúlicas e estruturais e, mais importante, a criação de um terceiro subsolo com dois mil metros quadrados, destinado à reserva técnica e ao depósito da biblioteca. Na operação foram descobertas até colônias de cupins, disseminadas pelas madeiras das vigas de concreto aparente, hoje pintadas de vermelho-sangue. O término de tudo depende do aporte de mais R$ 2 milhões.

Caso a recauchutagem completa não possa ser finalizada até fevereiro de 2000, a atual diretoria entrará numa saia justa. Naquele mês acontece o centenário do professor Pietro Maria Bardi, que concebeu o Masp. A comemoração está sendo capitaneada pelo Instituto Lina Bo e P.M. Bardi. O arquiteto Marcelo Carvalho Ferraz, seu diretor-executivo, acha que estão sendo feitas obras importantes, mas a liberação do belvedere já passou da hora. "Aquela gambiarra está durando muito tempo e compromete a imagem do museu."

 

Nem Niemeyer escapa

Uma viga de 90 metros de extensão – do tamanho de um campo de futebol – suspensa entre dois enormes pilares externos sustenta uma construção em concreto e vidro, com curvas características do trabalho de seu autor, o arquiteto Oscar Niemeyer. Trata-se da Biblioteca Latino-americana Victor Civita, que, embora pouca gente saiba, é detentora de um recorde arquitetônico. Possui o maior vão livre da América Latina, superior ao do Museu de Arte de São Paulo (Masp), que tem 80 metros. A biblioteca, a exemplo do Masp, também passa por amplas reformas. Tudo começou por causa de um prosaico carpete azul que é visto em outras dependências do Memorial. Os imensos vidros nas laterais do prédio deixavam entrar muita luz do sol e o tal carpete foi se deteriorando. Além disso, acumulava ácaros e sua cola desprendia gases químicos que prejudicavam a conservação dos 25 mil volumes da biblioteca, que ainda dispõe de um acervo de 1.100 fitas de vídeo. A solução foi colocar piso de paviflex, também azul, de manutenção mais simples e barata. Para evitar a ação predatória do sol sobre móveis e equipamentos, as grandes janelas da biblioteca vão ser revestidas de filtro solar. O subsolo, que abriga o equipamento de informática, ganhará climatização especial. Tudo com a aprovação do próprio Niemeyer e do Condephaat, já que em dezembro de 1997 o memorial foi tombado pelo patrimônio histórico.

C. F.