A mais importante fronteira agrícola brasileira vai ser desbravada bem longe daqui. Mais precisamente em Seattle, nos Estados Unidos, a partir do dia 29 de novembro. É lá, na reunião da Organização Mundial do Comércio, batizada de Rodada do Milênio, que o governo começará uma cruzada definitiva para derrubar as barreiras e os subsídios que desequilibram o comércio internacional. Ao contrário de outras reuniões, como a que ocorreu no Uruguai em 1992, os negociadores brasileiros se dizem bem mais preparados e apoiados pela iniciativa privada para enfrentar, sobretudo, as resistências da União Européia. "Há uma oportunidade esplêndida porque a Europa não está unida em torno dos seus gastos com subsídios e os Estados Unidos, assim como nós, elegeram a agricultura sua prioridade número 1", avaliou o ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, no seminário Agronegócio Brasileiro – As Negociações Agrícolas para a Virada do Milênio, organizado pelo governo paulista. Sintomaticamente, o encontro reuniu, não só as principais lideranças rurais, como também outros dois integrantes da nova tropa de choque de FHC: Clóvis Carvalho, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; e Marcus Vinícius Pratini de Moraes, da Agricultura. "Temos de sair de lá com uma agenda com datas para o fim dos subsídios à exportação, para a abertura dos mercados e para a eliminação dos subsídios internos", garantiu Pratini.

A preocupação é justa. A União Européia investe US$ 142 bilhões em subsídios e taxa a carne bovina, por exemplo, em 215%. Os incentivos americanos incluem a garantia de preço mínimo para a soja, que estimula a produção e derruba ainda mais o preço internacional. O Japão não taxa o café in natura, mas aplica 12% sobre o solúvel para inibir a agroindústria em outros países. Para derrubar o protecionismo, o Brasil conta com aliados externos, como Argentina, Austrália, Nova Zelândia e, em alguns momentos, Estados Unidos, além de uma poderosa arma interna. "O seu forte mercado, que interessa aos demais países e nos dá um grande poder de barganha", diz o embaixador Valdemar Carneiro Leão, um dos principais negociadores brasileiros. "Temos de dizer que não faremos qualquer concessão adicional enquanto não houver uma sensível queda nas barreiras", aconselha o embaixador Jório Dauster, hoje presidente da Vale do Rio Doce. E são as empresas que, desta vez, estão fazendo a diferença. A Confederação Nacional da Agricultura já levantou os problemas específicos e as propostas de oito setores, como cereais, frutas, frangos e suínos. "Ou nós trabalhamos em conjunto e nos preparamos bem, ou vamos ficar só esperneando, fazendo terapia de grupo em nossas chorosas reuniões", dá o tom o vice-presidente da Fiesp e presidente da Sadia, Luiz Fernando Furlan.