O cenário da aviação civil brasileira vive um período para lá de turbulento. As quatro grandes empresas nacionais – Varig, Vasp, Transbrasil e TAM – amargaram juntas no primeiro trimestre deste ano perdas que chegam a R$ 277 milhões. Graças principalmente à desvalorização cambial, a taxa de ocupação dos vôos para o Exterior despencou em até 50%. Mesmo a TAM, que recentemente engrossou a disputa pelas linhas internacionais e adquiriu os modernos Air Bus, sente o peso do desafio de atravessar as fronteiras do País e hoje vive uma situação diferente da de 1998, quando registrou lucro de R$ 15,5 milhões. Para discutir as saídas que podem ser trilhadas, as quatro companhias se reuniram, na terça-feira 3, num hotel de São Paulo durante mais de três horas. O encontro contou com apenas dez participantes, entre eles os presidentes da Varig, Fernando Pinto; Vasp, Wagner Canhedo; e TAM, Rolim Adolfo Amaro. A Transbrasil foi representada por Celso Cipriani, vice-presidente da empresa (o presidente Paulo Enrique Coco estava em viagem). Resultado: os participantes juram que foi descartada a possibilidade de fusões em favor de uma política de cooperação. Ainda não se sabe, porém, como esses acordos serão desenhados. O fato é que o governo está receoso de se ver obrigado a colocar a mão no bolso para saldar as crescentes dívidas do setor e o próprio ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Clóvis Carvalho, estimulou os empresários a se reunirem para discutir seus problemas.

O tiro pode sair pela culatra. Eles aproveitaram o encontro para também tratar das indenizações referentes à "erosão tarifária", ou seja, as perdas causadas pelos sucessivos planos econômicos. A Transbrasil foi a única que já ganhou a ação que lhe daria direito a R$ 1,4 bilhão. A empresa negociou com a União e chegou ao valor de R$ 700 milhões, que praticamente equivale ao seu rombo com o governo. É isso que as demais pleiteiam: indenizações que ajudem a liquidar dívidas e garantam crédito para eventuais pedidos de financiamento ao BNDES.

Independentemente da versão oficial sobre o encontro, a possibilidade de fusões é grande. "Podemos ter duas companhias em pouco tempo", aposta o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Antonio Carvalho, especialista em transportes. "O próprio Departamento de Aviação Civil (DAC) sinaliza desde dezembro do ano passado que o ideal seria ter dois participantes no jogo", completa Carvalho. O DAC já encomendou um estudo à UFRJ para reestruturar os vôos internacionais, origem dos prejuízos das companhias. Fontes do setor garantem que TAM e Varig foram procuradas pela Vasp e que a empresa estaria à venda por R$ 200 milhões. Rui Nogueira, porta-voz da companhia, nega a informação, mas o próprio Canhedo admitiu a ISTOÉ a possibilidade de uma fusão: "Desde que se leve em conta o papel da empresa na aviação doméstica e internacional." Nos bastidores, as fusões admitidas são a da Varig com a Transbrasil (as duas adotaram um acordo operacional no ano passado) e a da TAM com a Vasp, o que exigiria corte de linhas para evitar duplicidade de vôos e baixo rendimento.

Há ainda outra opção. "Se as quatro não se acertarem, vai sobrar espaço para que uma internacional se estabeleça", opina o professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP) James Terence Wright. Atualmente mais de 35 empresas estrangeiras atuam no Brasil e os laços com as nacionais estão cada vez mais estreitos. A Swissair, por exemplo, logo vai anunciar uma parceria com a Transbrasil. O diretor-geral da transportadora suíça no Brasil, Markus Attenbach, não antecipa o teor do acordo, mas admite que em poucos meses será revelado um negócio envolvendo as duas empresas – não necessariamente compra, até porque o Código Brasileiro de Aeronáutica impede que empresas estrangeiras tenham mais de 20% das ações com direito a voto nas nacionais. O certo é que, endividadas, com baixa ocupação em vôos internacionais e sem a ajuda do governo, as empresas não têm como voar no azul.

Colaborou Hélio Contreiras (RJ)