Recordista mundial do salto em altura, o cubano Javier Sotomayor sempre caiu no confortável colchão da fama. Sua vitória em Winnipeg parecia ser apenas mais um pulinho para o topo do pódio: atingiu 2,30 metros e botou a mão na sua quarta medalha de ouro em Jogos Pan-Americanos. Desta vez, porém, sua queda encontrou a dura realidade do doping. O rotineiro exame realizado após cada competição encontrou traços de cocaína na urina do campeão, que teve sua vitória cassada no maior escândalo do atletismo desde o doping do canadense Ben Johnson nas Olimpíadas de Seul, em 1988. "Houve sabotagem", acusou Mario Granda, médico chefe da delegação de Cuba. "Não preciso de cocaína para saltar 2,30 metros", contestou Sotomayor, que já alcançou a marca de 2,43 metros. "Não nos compete julgar qual a intenção do atleta", rebate o brasileiro Eduardo De Rose, presidente da Comissão Médica do Pan e maior autoridade do mundo em dopagem. "A cocaína não aumenta a performance, traz apenas estímulo psicológico, mas seria um contra-senso tirá-la da lista no esporte, quando toda a sociedade a condena", explica De Rose. A primeira alegação cubana de que Sotomayor havia tomado um chá peruano foi rapidamente abandonada quando se soube que o exame encontrou partículas de cocaína pura.

Numa disputa ferrenha com o Canadá pelo segundo lugar no quadro de medalhas, os cubanos têm colecionado conflitos em Winnipeg. Primeiro, acusaram os canadenses de estimular que seus atletas abandonem a delegação e peçam asilo político. Agora, falam em sabotagem. No caso de Sotomayor, parece evidente a tentativa de se proteger um ídolo nacional. Na última semana, o doping também manchou o currículo de outra estrela. O inglês Lindford Christie, 39 anos, medalha de ouro nos 100 metros rasos dos Jogos de Barcelona, está ameaçado de encerrar a carreira se não conseguir reverter a suspensão de dois anos, aplicada pela Federação Internacional de Atletismo. Seu exame no Grand Prix da Alemanha acusou a presença da substância nandrolona, um tipo de anabolizante.