Pretensioso, esse pessoal da natação brasileira. Durante as seis noites das finais das provas dos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, eles ocuparam o mesmo lugar na arquibancada: atrás do pódio. Pretensiosos nada, práticos. Afinal, foram tantas as vezes que os nadadores brasileiros receberam seus prêmios lá que já era melhor guardar posição. Depois, virou tradição cantar a parte final do Hino, cortada na versão usada pelos organizadores. "A natação brasileira nunca mais será a mesma", festeja o presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, Coaracy Nunes. "Este Pan foi a nossa grande vitrine, interrompemos novelas, jornais, tudo para mostrar a força dos nossos ídolos nas piscinas." Liderada por Gustavo Borges e Fernando "Xuxa" Scherer, a equipe brasileira ainda revelou Luís Lima e Leonardo Costa, superou uma infinidade de recordes pan-americanos e sul-americanos e promoveu o batismo de fogo de uma série de meninas, como a baiana Nayara Ledoux, de apenas 15 anos. O sucesso foi tamanho que o Brasil recebeu o convite para disputar um desafio contra os Estados Unidos no ano que vem em preparação a Sydney e os técnicos brasileiros foram sondados para promoverem cursos em Cuba.

O fato é que a turma da piscina, assim como a do atletismo, despontou como a grande esperança de medalhas para os Jogos Olímpicos. Os resultados chegam em boa hora, pois os contratos de patrocínio da equipe brasileira terminam em dezembro e espera-se que sejam renovados até 2004. "A natação já tem o apoio tradicional e decisivo dos Correios, agora vamos buscar apoio também para outras modalidades, como o pólo feminino, que foi bronze", completa Coaracy. Esta foi uma das muitas vitórias inesperadas que garantiram ao Brasil a quebra do recorde total de medalhas conquistadas. Até a sexta-feira 6, já estavam asseguradas 90, contra 82 do Pan de Mar del Plata, em 1995. As surpresas também vieram com as medalhas de bronze inéditas na patinação artística, no hóquei e no squash. Entre as modalidades que confirmaram o favoritismo, destaca-se o vôlei de praia feminino, com a dupla Adriana Behar e Shelda, atuais bicampeãs mundiais. "O desempenho geral da delegação superou nossas expectativas", garantiu o ex-jogador de vôlei Marcus Vinícius Freire, chefe da missão brasileira. Mas o Comitê Olímpico Brasileiro não quer saber de perder tempo. Já em setembro, um grupo de dez pessoas vai a Sydney, na Austrália, escolher as instalações e organizar a pré-temporada brasileira para os Jogos de 2000. E, em novembro, eles vão para Atenas, já reunir informações para a preparação aos Jogos de 2004.

 

Bernardinho, o possesso

Enquanto a equipe brasileira de vôlei suava na quadra para vencer as cubanas na decisão da medalha de ouro do Pan, no domingo 1º, o técnico Bernardinho Rezende, 39 anos, quase tinha uma síncope no banco. Urrava, batia a prancheta ora na cabeça, ora no chão, xingava, chutava cadeiras… De nada adiantaram as sessões de ioga antes do jogo. O desespero tinha uma boa razão. Afinal, não é todo o dia que se derrotam as cubanas, campeãs das últimas sete edições. O último ouro do vôlei feminino brasileiro nos Jogos fora conquistado no distante 1963. "Ganhar das cubanas tem um sabor especial. São a principal equipe do mundo e criou-se uma rivalidade grande fora das quadras", disse o técnico, atirado para o alto pelas jogadoras eufóricas ao término da partida. As atletas já se acostumaram com o jeito raivoso do técnico carioca. Não foram poucas as vezes que ele reuniu toda a equipe para um pedido de desculpas por sua agressividade. É que Bernardinho – integrante da geração de prata do vôlei masculino na década de 80, campeão mundial em 1982 e pan-americano em 1983 – não admite vacilos. "A falta de atenção na quadra me deixa muito irritado. Prefiro colocar para fora a minha raiva a ter uma úlcera", diz.

Valéria Propato