Diariamente, centenas de passageiros do metrô de São Paulo transformam a dura rotina do transporte urbano em um happy hour nas estações. O desconforto da multidão e o entra-e-sai apressado não os impede de viver junto às muretas e catracas encontros emocionantes e longamente esperados. Como no filme Estação Doçura, do alemão Percy Adlon, de 1985, em que uma atendente de uma agência funerária (Marianne Sägebrecht) se apaixona por um condutor de metrô, muitos paulistanos encontram nos trens um modo de driblar a solidão da grande cidade. A analista tributária Cristina Silva que o diga. Escolheu a estação Penha para o primeiro encontro com seu atual marido. "Nos víamos na estação porque não tínhamos carro e precisávamos mesmo pegar metrô. Uníamos o útil ao agradável." Eles passaram a gostar tanto dali que, mesmo nos fins de semana, iam até a estação para namorar. Cristina e Gildo podem considerar o metrô um verdadeiro cupido. Afastados por quatro anos, depois de uma briga, foi lá, outra vez, que, casualmente, eles se reencontraram. Após duas horas de conversa, fizeram as pazes e hoje, casados, lembram dos bons momentos que desfrutaram ali. "A estação Penha foi palco de muitas decisões na minha vida", ela reconhece. A escolha do metrô como cenário para namoros tem sua lógica. Cercado de muitos seguranças, os casais sentem-se mais protegidos e a multidão garante um certo anonimato.

A operadora de micro Deise Venditti também faz parte da tribo do amor subterrâneo. Todo fim de tarde, ela se dirige à estação República para encontrar o namorado, o assistente técnico José Carlos. Ele mora em Embu das Artes, a 30 quilômetros de São Paulo, e chega de ônibus à região central, onde trabalha, mas faz uma escala na estação República para ver Deise. Nos ambientes modernos e funcionais do metrô, alguns cantos são mais disputados "Tenho de chegar cedo para guardar lugar ao lado da catraca, onde é menos movimentado", conta Deise. É lá que José Carlos se despede dela, antes de voltar à superfície para tomar seu ônibus.

Os seguranças vigiam os passageiros e desencorajam contatos mais calorosos, mas os namorados das estações sabem como driblá-los e proporcionam à platéia acidental beijos cinematográficos. "Em alguns casos é preciso pedir ao casal para acalmar os ânimos", diz William Rangel, funcionário do metrô. Três vezes por semana, Vanessa Lopes e Jailson Miranda fazem um pit stop amoroso na estação Tatuapé. O lugar preferido da dupla fica atrás de um extintor de incêndio. Alheios à multidão, eles curtem as poucas horas que passam juntos nos dias de semana. "Não me incomodo se olham, acho natural duas pessoas se beijarem em público. E a gente se comporta direitinho", diz Vanessa. Não é uma opinião unânime. Um segurança da estação os abordou, há dias, pedindo que se controlassem.

Apesar de serem funcionários da mesma empresa, a atendente de telemarketing Roseli Andrade e Fábio Wenzel, técnico de informática, não se vêem durante o expediente. Todos os dias, fazem uma parada estratégica na Barra Funda. "É aqui que a gente namora e bota a conversa em dia", diz Roseli. "Algumas pessoas chegam a olhar assustadas, mas acho que a maioria já se acostumou a isso", diz ele, apontando para os vários casais que estavam ao seu redor.

O metrô também é um ótimo esconderijo para os amores clandestinos. Alguns protagonistas de romances da hora do rush não podem aparecer. É o caso de J.O. e de sua namorada. Ele é casado e comenta: "Aqui somos anônimos." Numa megalópole de quase dez milhões de habitantes, os trilhos subterrâneos do metrô colocam em contato, no mesmo horário e no mesmo espaço, pessoas que de outra forma jamais se veriam. Às vezes é o que basta.