Há dez meses, Karl Dohnal, 57 anos, e sua mulher, Gabriela, 49, trancaram seu aristocrático casarão em Praga, na República Tcheca, e embarcaram com os dois filhos, Sylvia, 22 anos, e Martin, 19, para os Estados Unidos. Foram buscar o avião Cessna 182K, um dos bens que adquiriram na América, onde viveram como exilados políticos durante os anos 60 e 70. A bordo do avião robusto e diminuto, uma espécie de fusquinha dos ares, com autonomia de quatro horas e meia de vôo, ou 1.200 quilômetros, a família Dohnal iniciou uma longa e emocionante aventura, cortando os céus de meio mundo antes de regressar ao lar.

Dos Estados Unidos, país que já haviam cruzado de costa a costa numa viagem anterior, eles seguiram direto para o México. A partir de lá, começaram a desvendar pelo ar, por terra e até pelo mar cenários paradisíacos da América Latina. Os Dohnal mergulharam nas cavernas de corais da Península de Yucatán, entre o golfo do México e o mar do Caribe. Sobrevoaram a boca de vulcões da Guatemala e do Chile, observando lagos de lava incandescente. No Peru, subiram a pé a trilha Inca, a caminho de Machu Pichu, e voaram durante alguns dias sobre os glaciares, na Argentina, emocionados com a beleza dos gigantes de gelo e sem contato com nenhuma torre de controle de vôo. Com o pequeno Cessna, desceram até o Cabo Horn, no extremo sul do continente, onde os oceanos Pacífico e Atlântico se confrontam em ondas imensas.

 

Sem folêgo No Brasil, voaram tão baixo sobre as Cataratas do Iguaçu que as janelas do avião ficaram molhadas. Eles visitaram também o Pantanal e mergulharam no lago da caverna do Abismo, em Bonito, Mato Grosso do Sul, lugar que consideraram "o paraíso na terra". Na parada seguinte, o Rio de Janeiro. Sobrevoar a cidade foi, segundo Gabriela, "de tirar o fôlego". Eles se despediram do Rio numa manhã ensolarada de julho, planando ao longo da costa até São Paulo. No caminho, admiraram-se com a cor do mar na região de Angra dos Reis, mescla de verde e azul transparente. Sobre o litoral norte de São Paulo, os pilotos deslumbraram-se com a luminosidade e o contraste entre o verde escuro da mata, o azul do mar e o dourado das praias.

Num hangar do aeroporto do Campo de Marte, na cidade de São Paulo, o Cessna foi desmontado, cuidadosamente embalado em um contêiner e embarcado num navio para a África do Sul, onde começa a segunda etapa da viagem dessa família, já acostumada a grandes aventuras. Desde que a empresa de engenharia que Karl e Gabriela abriram nos Estados Unidos lhes deu condições financeiras de ter férias longas e extravagantes, eles praticaram esportes como montanhismo, esqui, pára-quedismo e mergulho submarino. Com os filhos ainda pequenos, passaram cinco anos velejando pelo Mediterrâneo e pelo Adriático. Na viagem atual, sem data certa para acabar, eles já conheceram mais sobre a América Latina do que a maioria dos próprios latino-americanos. A partir da Cidade do Cabo, para onde estão seguindo em avião de carreira, eles vão fazer o caminho de volta ao Hemisfério Norte, voando pela África, países árabes, Turquia, Grécia e Itália. "Quis dar para os meus filhos esse presente antes que eles tenham de assumir as responsabilidades da vida", diz Karl.