Os dois são nordestinos, chegaram a São Paulo em busca de emprego e na esperança de mudar o rumo de suas vidas. Começaram a trabalhar como metalúrgicos e entraram na política pela porta do sindicalismo. Além do Da Silva no nome, as semelhanças entre Lula e Vicentinho são muitas. Depois de mais de cinco anos à frente da CUT, a maior central sindical da América Latina, Vicente Paulo da Silva começa a preparar sua despedida. Na quinta-feira 5, ele inaugurou em Roraima a última sede regional que faltava à entidade que comanda. "Somos a única central sindical do Brasil com representação em todos os Estados", comemora. Embora relute em assumir o papel de candidato, de agora em diante, Vicentinho parte em busca de votos para ser prefeito exatamente em São Bernardo do Campo, a cidade que viu o PT nascer do esforço operário, capitaneado por Lula, um dos principais incentivadores da candidatura Vicentinho. Depois de 18 anos militando no setor, Vicentinho agora quer deixar de ser pedra e virar vidraça. "Coloquei meu nome à disposição do partido, mas não há nada decidido", minimiza o sindicalista, que este ano passou no vestibular para Direito.

Na prática, ele vem associando as atividades sindicais ao novo projeto e se prepara com afinco para administrar a cidade, que hoje abriga quase um milhão de habitantes, entre eles Lula. Suas recentes viagens à Holanda e aos Estados Unidos intercalaram encontros sindicais e reuniões com prefeitos que realizaram experiências-modelo, especialmente em meio ambiente, educação e urbanismo. "Administrar não é só tampar buracos, precisamos de mudanças grandiosas, que melhorem de fato a qualidade de vida", empolga-se Vicentinho. "É fundamental que a comunidade compreenda a importância da Billings e ajude a combater sua degradação", completa, referindo-se à represa de água que abastece toda a região. Na disputa eleitoral, um potencial adversário é o atual prefeito, o advogado Maurício Soares (PSDB), que também despontou para a política a partir do Sindicato dos Metalúrgicos. O primeiro mandato de Soares inclusive, entre 1989 e 1992, foi pelo PT.

No universo sindical, a saída de Vicentinho da CUT reabre uma antiga disputa pelo comando da entidade, que completa 16 anos no próximo dia 28 e até hoje só teve presidentes saídos da direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Outras categorias, especialmente os bancários, jamais se conformaram com o fato. Candidato natural ao posto, o atual presidente do sindicato, Luiz Marinho, planeja ajudar a criar uma organização nacional dos metalúrgicos. "Com isso, também quero ajudar a acabar com o clima tenso na central, mas existem muitas outras lideranças metalúrgicas em todo o País", diz Marinho. Para complicar um pouco mais a disputa entre metalúrgicos e bancários, há ainda as brigas internas entre as diferentes facções políticas que compõem a entidade e a própria crise de identidade do sindicalismo brasileiro.