Ela tem tatuada no ombro esquerdo a pata de um felino. A exemplo do espécime, a tigresa de unhas incolores e íris escuras afogadas nos mais profundos olhos castanhos já mostrou em álbuns anteriores garras afiadíssimas. Hoje, está mais mansa, prestes a ronronar. Talvez seja por causa da maternidade. Cássia é mãe de Francisco, um loirinho de quase cinco anos que, ao ouvir discos antigos da mãe, foi taxativo em dizer que ela berrava demais. São os ouvidos sensíveis de criança, que contraditoriamente adoram Nirvana e os urros de Kurt Cobain. O vocalista falecido e sua banda, aliás, serviram de inspiração para a concepção da faixa Um branco, um xis, um zero, de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Pepeu Gomes, uma das 12 produzidas pelo titã Nando Reis, auxiliado pelo guitarrista Luiz Brasil. A dupla, juntamente com a fantástica intuição da cantora, perpetrou um CD para ser entendido e curtido a cada execução. Entre todas as canções exemplares de grandes mestres, no entanto, há uma de empatia explícita. É Mapa do meu nada, de Carlinhos Brown, um rock bem safado, daqueles para ser saboreado várias vezes, como Cássia Eller. (A.R.)
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