É só perguntar a qualquer garoto o que ele quer ser quando crescer, e há boas chances de a resposta ser jogador de futebol ou pagodeiro. No país do samba e do futebol, as duas profissões se tornaram sinônimo de glamour, prestígio e muito, muito dinheiro. Há quem tenha conseguido realizar os dois sonhos, ou quase. Em busca de investimentos para o futuro, numa carreira pouco duradoura, vários dos craques mais estrelados do Brasil estão comprando o passe de grupos de pagode ou axé music. Denilson, ex-jogador do São Paulo, atualmente no time espanhol Betis, de Sevilha, é o que mais tem levado a sério a aventura no mundo da música sacolejante. "Além de ser economicamente interessante, ainda gosto muito de samba e rap", diz ele, que há um mês investiu cerca de R$ 1 milhão para ser o mandachuva do bem-sucedido grupo Soweto, liderado pelo platinado vocalista Belo, que, apesar do exagero no nome artístico, se tornou um dos sex symbols do momento.

A compra foi uma tacada de mestre. O terceiro álbum do grupo, Farol de estrelas, vendeu 400 mil cópias em três meses e o anterior, Refém do coração, ultrapassou as 800 mil, segundo a gravadora EMI. Como tem direito a 30% do faturamento de tudo que o Soweto ganha, Denilson deve começar em breve a ter uma receita mensal estimada em R$ 200 mil, vinda boa parte das apresentações ao vivo, já que a média é a de 25 shows mensais com um cachê de R$ 30 mil por apresentação. O ex-jogador do São Paulo se empenha para lançar o Soweto na Espanha, mas tem feito bem mais. Como jogador ele é patrocinado pela Pepsi-Cola e pela Nike. Segundo Luiz Vianna, procurador de Denilson, será a fábrica de refrigerantes que deverá também patrocinar os próximos shows do Soweto. O negócio é tão bom que ele já comprou outra banda, a ainda desconhecida Gana, e montou a empresa Denilson Show e Promotion. Recentemente gastou R$ 70 mil para que Gana gravasse seu primeiro disco. Marcelo Oliveira, percussionista do grupo, e velho conhecido do jogador, diz que a vida deles só melhorou depois da ajuda. "Os donos das casas noturnas abriram as portas para a gente, compramos instrumentos novos, estamos usando roupas de griffe e aparecemos com o Denilson no Globo esporte."

Outro que está no disputado ramo musical é o polêmico craque Edílson, do Corinthians, aquele das famosas embaixadinhas na final do Campeonato Paulista. O craque baiano gastou R$ 120 mil para ser sócio da Raça Pura, banda de axé music que emplacou o sucesso O pinto, canção de grosseiro duplo sentido. Segundo o vocalista Denny, o investimento já foi recuperado com folga, afinal cada espetáculo da banda, animado por duas rebolativas bailarinas clones de Carla Perez, custa R$ 15 mil. Em média são 20 shows por mês. Edílson, porém, não está sozinho no concorrido mercado da axé music. O voluntarioso zagueiro Júnior Baiano, do Palmeiras, o mesmo que nos campos costuma marcar firme o craque do Corinthians, tem investido no badalado Chiclete com Banana, de Salvador. Há, no entanto, quem se una aos grupos sem gastar um tostão. Caio, atacante do Flamengo, só empenhou sua imagem famosa para ajudar os pagodeiros do Força de Expressão, que tem um primo seu entre os integrantes. Graças à influência de Caio, eles vêm participando de programas de tevê e foram sondados por gravadoras. "Por enquanto é só isso, eu sou o padrinho deles, mas não tem nenhum envolvimento financeiro", conta o atacante, que desde dos tempos em que era dente-de-leite já ouvia seu sambinha.

Ele e outros jogadores se aproximaram dos pagodeiros por frequentar as mesmas casas de samba de São Paulo e da região do ABC. O maior problema dos boleiros em relação a seus grupos, contudo, é tempo para maior dedicação. Edílson, por exemplo, terá de diminuir sua onipresença junto ao Raça Pura. "Agora, eles podem seguir sozinhos e quero aparecer apenas como empresário." O jogador, que se gaba de tocar violão desde criança, por influência do pai, não se cansa de dar palpites nos arranjos, nas letras. "Já acabou essa história de letras falando de bumbum", afirma. "No nosso próximo CD temos de pensar em letras mais elaboradas, dedicadas ao nosso público infantil que é muito grande." Por via das dúvidas, as duas voluptuosas bailarinas vão continuar.

 

Sambistas do Senhor

Ultimamente os jogadores de futebol evangélicos ou católicos têm se excedido numa ladainha que vem cansando os torcedores. A cada gol ou conquista louvam a Deus, a Jesus Cristo. Um dos tais pregadores de chuteiras é o atacante Marcelinho Carioca, do Corinthians, um artista na arte de fazer gols e dar passes certeiros. Como é evangélico, ao contrário de seus colegas que investem em bandas mundanas, ele virou cantor de um grupo de pagode gospel chamado Divina Inspiração, que já tem um disco, Fonte de inspiração, lançado pela Continental Warner. Ao lado de Amaral, meio- de-campo do Vasco da Gama, que toca pandeiro, Marcelinho pilota o repique e canta. Elcio dos Santos, empresário do grupo e ex-católico convertido por Marcelinho, garante que não são radicais. "Somos normais, só não bebemos, não fumamos nem falamos palavrões. Nosso som é bem suingado."