Qualquer um poderia suspeitar de que o varejo tradicional está morrendo. A quinta-feira 29 parece ter confirmado essa premissa. No mesmo dia, duas das maiores redes de lojas do País tiveram o seu fim selado. O castelo construído pelo empresário Ricardo Mansur, o ex-rei do varejo, desmoronou com a decretação da falência da rede Mappin, enquanto a direção das Lojas Brasileiras anunciava o encerramento das suas atividades. A família Goldfarb, também dona das lojas Marisa, decidiu encerrar antes que uma operação deficitária levasse o resto do grupo à derrocada. As operações conjuntas dos 63 pontos distribuídos em 19 Estados apresentaram três anos consecutivos de prejuízos. A Lobrás, que oferecia um mix de produtos variados, tinha 69 anos de existência. Com o fim das duas redes de varejo, mais de seis mil trabalhadores devem perder seus empregos.

Agonizando em dívidas superiores a R$ 1 bilhão, a rede de lojas Mappin teve suas portas lacradas pela Justiça. A decisão retroage a janeiro, quando os primeiros pedidos contra a empresa começaram a pingar. A medida do juiz Luiz Beethoven Ferreira deverá anular as transferências de bens a terceiros feitas pelo empresário Mansur nos dois meses antecedentes à liquidação imposta pelo Banco Central ao banco Crefisul, o braço financeiro do grupo, no final de março. Os empregados vão tentar uma solução com a Justiça. Caso não consigam, será um fim melancólico para a tradicional loja fundada em 1913 por dois comerciantes ingleses, que, em seus áureos tempos, era reduto da elite paulistana quando as damas da alta roda frequentavam seus salões de chá no centro da cidade. Era lugar para ser olhado e notado.

A partir de agora, deve ser o início dos maiores tormentos na vida de Mansur. Comprada em 1996, a rede de 13 lojas começou a definhar quando o varejo não dava o mesmo retorno para quem sonhava erguer um império. Quando comprou a Mesbla no ano seguinte, assumindo um enorme passivo, Mansur não demorou muito a ver o pesadelo que havia montado. Endividou-se espantosamente. Tentou uma saída, deixando o controle e contratando um executivo especializado em levantar empresas. Não adiantou. Espera-se agora que a Mesbla tenha o mesmo triste desfecho da falência. O ex-rei do varejo brasileiro vive hoje torcendo por seu time de pólo na terra da rainha inglesa. Tem dez dias para voltar ao Brasil para dar explicações à Justiça. Caso contrário, Mansur poderá ter sua prisão decretada.