Em tempos de Jogos Pan-Americanos, vale a constatação: o verdadeiro esporte preferido do brasileiro é o arremesso de ídolos. O último feito desta mania nacional foi a ascensão e queda dos Ronaldinhos. O primeiro, mundialmente famoso, caiu em desgraça desde o colapso na final da Copa da França, viveu às voltas com lesões nos joelhos, jogou pouco, semeou antipatia ao desfilar por aí de Ferrari, foi vaiado e, aos 22 anos, já é acusado de ser um ex-craque. O outro, admirado pelos gaúchos, virou unanimidade aos 19 anos, depois de marcar um golaço pela Seleção. Por ironia, eles têm o mesmo nome, a mesma precocidade e o mesmo jeito dentuço de ser. "Mais do que em qualquer outra cultura, o brasileiro é muito volúvel em relação aos famosos. Uma pessoa que é amada pode ser odiada rapidamente", analisa o professor de Filosofia da USP Renato Janine Ribeiro. "É uma verdadeira máquina de moer carne." Os exageros da torcida e da imprensa são visíveis. Nem Ronaldo está acabado nem Ronaldinho Gaúcho é um mago capaz de resolver sozinho qualquer partida.

"Há uma fase inicial de encantamento muito grande com todo craque", afirma o colunista esportivo Tostão, que já viveu os solavancos da fama durante sua carreira de jogador. Como todos os brasileiros, ele acredita que Ronaldinho Gaúcho tem um talento incomum, mas alerta: "A partir de agora, terá de conviver com as altas expectativas criadas em torno dele, assim como acontece com o seu xará." Ronaldo, o mais famoso, tenta sair de seu inferno astral. Foi o artilheiro da Copa América, apesar de algumas atuações opacas, que lhe renderam até vaias. De férias no Brasil, tratou de melhorar a imagem com a doação de dinheiro ao Instituto Nacional do Câncer, no Rio, mas acabou envolvido, na Itália e aqui, em reportagens sensacionalistas que o ligavam a farras com prostitutas. "Ele até mostrou estar recuperado fisicamente. O que lhe falta é um pouco de sabedoria ao atuar. Ronaldo insiste em tentar a todo instante jogadas espetaculares e, assim, se expõe demais. Pode jogar bem sem correr tantos riscos", aconselha Tostão. De bem com a vida, Ronaldinho, o gaúcho, encontrou na Copa das Confederações, torneio que a Seleção disputa no México, espaço para fomentar sua popularidade crescente. E até já descobriu que a fama o tornou mais bonito. "Mas prefiro dizer que sou um feio simpático", conclui, sorrindo.


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