Vengan, vengan e tragan la plata!", convida, num apelo bem-humorado e sincero Hernán Santiago Lombardi, secretário de Turismo de Buenos Aires. Depois da desvalorização do real frente ao dólar, plata, ele sabe, não tem sobrado no País. Por isso, uma operação reunindo governo, hotéis, restaurantes, agências de viagens e casas de espetáculos está em andamento para que a cidade volte a ser o econômico destino dos brasileiros no Exterior. No auge da estabilização, em cada dez visitantes estrangeiros sete eram brazucas. No ápice da crise financeira do início do ano, eram só três verde-amarelos em cada dez forasteiros. Agora, os brasileiros atracados com seus sobretudos voltam a se render a atrativos como a hospedagem 10% mais barata no geral e os pacotes que sofreram uma redução de até 30% no preço em dólar. "A crise afetou muito o mercado e todo mundo teve de prestar atenção nos brasileiros. Desse ponto de vista, a consequência foi positiva", analisa Roberto Rodriguez, gerente da agência Agaxtur.

A sedução não pára por aí. Em um mês estará funcionando um sistema online com a central de reservas do Teatro Colón e do San Martín, que permitirá a compra de ingressos, ainda no Brasil. Vários hotéis também buscam agradar oferecendo talões com cupons de descontos em restaurantes, bares e lojas. Até mesmo aquela irritação básica que domina qualquer tupiniquim quando entende o "cerca" dos portenhos, mas eles acham incompreensível o nosso "perto", poderá ser aliviada. Os taxistas do aeroporto Ezeiza vão estrear o curso de português oferecido pelo governo que no futuro será estendido aos jornaleiros e policiais. "O primeiro contato já vai melhorar", garante o secretário Lombardi. Se ainda assim a decisão argentina de estabelecer barreiras comerciais aos produtos nacionais incomodá-lo como a um soldado na defesa das fronteiras, lembre-se de que eles podem desprezar nossos escarpins para caírem no tango, mas necessitam como nunca que gastemos nossos sapatos pelas ruas da capital. E pelas mudanças feitas em Buenos Aires nos últimos cinco anos, não será nenhum sacrifício.

O prefeito de Buenos Aires, Fernando de la Rúa, é candidato à presidência e oposição ao atual presidente, Carlos Menem. Isso significa que desde 1996, quando pela primeira vez os portenhos puderam eleger seu governante local, De la Rúa tem feito da cidade sua bandeira pelo posto federal. Nessa campanha pela Casa Rosada, diante da taxa de desemprego de 15% e de um parque industrial estagnado, ele está prometendo gerar um milhão de vagas em quatro anos no setor turístico. Hoje a Argentina emprega 500 mil pessoas nessa área. Daí a prioridade de criar, como nunca, os incentivos para incrementar a entrada de visitantes e, claro, de divisas. Há um investimento para recuperar áreas históricas como, por exemplo, San Telmo, o tradicional bairro do tango. Ali, calçamento e fachadas sofrem reformas. As luminárias atuais vão ser substituídas pelas originais, do início do século. Uma linha de crédito foi aberta para os moradores que também se dispuserem a melhorar o aspecto de suas casas. A valorização do bairro tem atraído muitos jovens e trazido artistas que haviam deixado a região por insegurança. Esse público está interessado no novo perfil imobiliário de San Telmo: as construções antigas transformadas em charmosos lofts.

Os traços modernos ficam explícitos nas torres imensas de vidro e aço erguidas pelas multinacionais, que contrastam com a arquitetura de inspiração francesa da cidade. É a interferência na paisagem já resultante do processo de privatização. O ícone dessa nova plástica é Puerto Madero. Todos os prédios abandonados da antiga região portuária deram lugar a lojas, restaurantes, escritórios e até mesmo moradias, causando uma supervalorização imobiliária. O mesmo está acontecendo com o bairro Once, área de imigrantes judeus, conhecida por suas lojas de produtos populares. O recém-inaugurado shopping de Abasto está sendo o catalisador de mudanças como a restauração de edifícios, o surgimento de um novo centro bancário e até a instalação do hotel Holiday Inn.

A estrutura da capital mudou e a chegada das grandes cadeias hoteleiras contribuíram para essa nova cara. Havia um déficit de hotéis mais sofisticados e, de cinco anos para cá, redes como Caesar Park, Intercontinental e Crowne Plaza se instalaram ali, suprimindo em parte essa deficiência. Coincide com esse período ainda um forte investimento na iluminação – a cidade ganhou um novo glamour à noite. Até os telefones passaram a funcionar melhor em Buenos Aires. O serviço é caro, mas as ligações se completam. Na gastronomia, uma "ilha" formada por quatro quarteirões chamada Las Cañitas em Palermo é o novo point sofisticado, que amplia as escolhas trazendo a cozinha asiática e fusion à cidade.

Para os brasileiros essas novidades saltam aos olhos. "Buenos Aires me surpreendeu. É muito mais do que me disseram", diz o administrador de empresas Silney Szysyko, que estava em viagem de lua-de-mel com a mulher, Kátia. Quem já conhecia a cidade acha que as novas intervenções só aumentaram seu charme. "É um lugar que só de estar já vale a pena, sem necessidade de grandes invenções", garante o publicitário Sérgio Gomes. Experimentados na nova realidade do real no mundo do peso, eles dão algumas dicas para aproveitar o lugar sem culpa. Prefira vinho a cerveja. Uma garrafa de um bom tinto nacional sai por US$ 15 contra US$ 5 de um copo de gelada. Entre comer bem e dormir num hotel estrelado, fique com a primeira opção. As carnes argentinas valem o investimento. E a principal lição. "Nada de compras", alerta Rosane Gomes, com a aprovação do marido, Sérgio. Mas, se você é do tipo que tem compulsão por sacolas, faça como alguns patrícios. "Eles nem sequer fornecem o número do cartão de crédito. Nem como segurança para uma reserva. Não querem ter a tentação de pagar a conta a prazo e ficar com pesos na mão para gastar", conta Martin Diez, diretor-comercial do hotel Crowne Plaza. Só não economize num quesito, o tango. "Vale qualquer sacrifício", garante Sérgio.