Há dez anos, a indústria da informática pregava que a adoção das tecnologias digitais eliminaria o uso do papel nos escritórios. Ocorreu o contrário. Além de ninguém ter passado a ler longos textos e relatórios na tela de um PC, a facilidade de imprimir qualquer coisa apertando uma tecla fez o consumo mundial de papel para escritório explodir. Ficou evidente que o ser humano está visceralmente acostumado a ler usando folhas desse meio flexível, leve e barato feito de celulose e inventado na China há dois mil anos. Mas o papel tem vários inconvenientes. Além de precisar ser reciclado para ser reutilizado, são abatidas mais de 20 árvores a cada tonelada produzida. E à medida que o consumo aumenta é preciso criar novas áreas de reflorestamento. Destroem-se florestas naturais para criar outras artificiais. Qual a solução? Criar um substituto à altura do papel. As condições básicas para a sua aceitação são ser flexível, leve e barato, aliando a essas qualidades a virtude de ser eletrônico, armazenando textos e gráficos copiados de um computador ou da Internet. Como um disquete, seus dados devem ser apagados e trocados por outros quantas vezes necessário. Apesar de parecerem futuristas, dois produtos com essas características estão muito perto de invadir nosso dia-a-dia. O primeiro chama-se tinta eletrônica. Inventada no badalado Laboratório de Media do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), começa a ser comercializada em 2000 pela E Ink, empresa formada por ex-alunos do Media Lab com US$ 15,8 milhões investidos pela Motorola e pelo grupo Hearst. A tinta "digital" consiste em milhões de bolinhas microscópicas imersas num líquido semelhante ao toner das impressoras e capazes de aderir a uma base sintética e flexível parecida com o papel. As esferas têm duas cores. São pretas de um lado e brancas do outro. Essa diferença faz com que cada pólo reaja de forma diferente a um estímulo elétrico. Assim, mudanças de corrente passando pelo "papel" fazem as bolinhas girar, exibindo a face incolor ou colorida, conforme o desejado. Controlando-se a posição de todas as esferas, altera-se a imagem "impressa". A primeira demonstração da E Ink acontece desde 3 de maio, quando um cartaz foi pregado no teto de uma loja de departamentos J.C. Penney, em Massachusetts. O pôster tem 1,80m, espessura de três milímetros e informa as promoções diárias da loja.

Quatro mil quilômetros a Oeste, em Palo Alto, na Califórnia, cientistas do Centro de Pesquisas Parc da Xerox trabalham num conceito muito semelhante, batizado Gyricon. Trata-se de um papel com a consistência da borracha e também saturado de microesferas semibrancas e negras. À medida que se escreve em suas folhas usando uma caneta eletrônica, as bolas giram, formando palavras e imagens. A resolução é de 200 pontos por polegada, melhor que a do monitor de um notebook. A idéia da Xerox é produzir dispositivos portáteis com a função de impressoras para plugar em computadores e alterar as informações dispostas no papel elétrico. O papel elétrico será produzido em escala industrial pela 3M e chega ao mercado até o final de 2000.