Eles chegam munidos com um balde de cola, rolos e vários cartazes. Aos poucos, vão afixando os papéis em muros ou paredes do Rio de Janeiro e dão tons coloridos a espaços antes cinzentos. O material que divulgam nada tem a ver com mensagens publicitárias ou políticas: são cartazes artísticos estampados com rostos de personagens importantes da cultura brasileira. Não anunciam shows ou espetáculos, apenas mostram a imagem de um escritor, uma cantora, um ator, etc. Esse é o trabalho a que se propõe o coletivo Cultura de Rua (CDR). “Queremos levar as referências culturais brasileiras ao cidadão comum, que passa na calçada”, explica o designer gráfico Eduardo Denne. “A partir de figuras como Grande Otelo, Garrincha ou Clarice Lispector, procuramos incentivar o interesse por pessoas que são o melhor que o Brasil tem.” Também integram o CDR o designer Carlos Filardi e o historiador Thiago Florêncio. Os cartazes com 24 personalidades brasileiras são inspirados na pop art americana e nos artistas russos.

A idéia nasceu no projeto de conclusão de curso de Denne. Ele queria levar a arte e a cultura brasileiras a todos, sem distinção de classe social. Há um ano, os integrantes do CDR fazem esse trabalho, seguindo regras politicamente corretas. “Nunca colamos cartazes em monumentos públicos, prédios tombados, árvores ou igrejas”, informa Filardi. De uma maneira geral, pedem permissão para usar paredes e muros. “Queremos despertar o interesse por pessoas de nossa cultura que estão esquecidas, sem querer torná-las heróis”, diz Florêncio.

Quem tiver interesse em saber mais sobre algum dos personagens pode encontrar informações no site do coletivo (www.cdrculturaderua. com). Denne e Filardi dão aulas da técnica de estêncil, usada nos cartazes, a pessoas de comunidades carentes. “A idéia é dar a elas uma nova forma de gerar renda”, explica Denne. A cada seis meses, 12 novos personagens são acrescentados à galeria e o trabalho não tem fins lucrativos. “Buscamos uma nova forma de fazer e expor arte e cultura”, afirma o designer. “Muitas pessoas comentam os cartazes, outras os arrancam para levar para casa.” Essa interação é justamente o objetivo do CDR. “Se tivermos despertado o interesse de uma só pessoa, o trabalho terá valido a pena”, resume Filardi.