Relembre, em vídeo, alguns momentos do tempo em que Norma era musa do cinema nacional:

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MUSA
Norma se revelou no cinema com uma imitação de
 Brigitte Bardot. À esq., no filme “Os Cafajestes”

O cinema nacional alinha estrelas que romperam fronteiras e tabus, como Sonia Braga e Vera Fischer. Mas nenhuma delas foi tão transgressora quanto a atriz Norma Bengell, morta na quarta-feira 9, aos 78 anos, após lutar seis meses contra um câncer no pulmão. Muito jovem, ela causou escândalo ao protagonizar o primeiro nu frontal de uma produção brasileira em “Os Cafajestes” (1962). Tinha 27 anos e despontava como mito sexual por suas atuações como vedete no teatro e nas chanchadas, imitando em “O Homem do Sputnik” outra diva dos anos 1960, a francesa Brigitte Bardot. Com a mesma coragem que enfrentou a moral da época, a ex-modelo se desfez dos trejeitos afrancesados que usava também como cantora e foi brilhar na Cinecittà, na Itália, contracenando com Renato Salvatori e Catherine Deneuve, entre outros. Participou de mais de 50 filmes.

Focada nos últimos anos para a direção, as polêmicas voltaram a acompanhá-la, mesmo que involuntariamente. Norma vinha sendo acusada de malversação de dinheiro público pela realização do longa “O Guarani”(1996), que assinou depois de “Eternamente Pagu”. Abatida pelos processos, mesmo assim não perdeu o humor. Gostava de lembrar o seu período de glória, quando foi casada com o ator italiano Gabriele Tinti e conviveu com os cineastas Luchino Visconti, Federico Fellini e Pier Paolo Pasolini. “Minha casa em Roma era uma loucura. Saía muito com Pasolini para dançar nos botecos da cidade”, disse à ISTOÉ em uma de suas últimas entrevistas. Nessa época, ela conheceu o ator Alain Delon, que filmava com Visconti “O Leopardo” – ela atuava em “O Mafioso”, de Alberto Lattuada, ambos rodados na Sicília. “Estava nadando no mar e alguém veio em minha direção. Era ele. Começamos a namorar.”

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No entanto, foi no cinema novo que Norma deixou a sua marca. Além de “Os Cafajestes”, foi a esposa torturada de “A Casa Assassinada” e uma índia libertária em “A Idade da Terra”, último trabalho de Glauber Rocha, que à sua maneira barroca via nela a “força telúrica do útero da mulher brasileira”. A ousadia marcava a escolha dos papéis: antes da revolução dos costumes dos anos 1960, Norma interpretou prostitutas em “O Pagador de Promessas” e em “Noite Vazia”. A rebeldia, que a levou a ser expulsa de um colégio de freiras, a acompanhou nos tempos da ditadura, perseguida pela censura. Seu sonho era que a atriz Ana Paula Arósio a vivesse no filme “Tudo por Amor”, baseado na sua trajetória de ousadia e beleza incomum.