Quem entra no Hospital Copa D’Or, em Copacabana, no Rio de Janeiro, tem a sensação de estar botando os pés em um hotel cinco estrelas. As suítes, de 50 metros quadrados, têm dois banheiros e uma saleta de estar equipada com televisão de 29 polegadas. Lá existe um andar vip que conta até com chef exclusivo, José Paulo Moreira, cuja especialidade é o cherne au beure blanc (peixe ao molho de manteiga). O prato pode ser degustado com champanhe francês. Os hóspedes, ou melhor, os pacientes, dispõem de outras regalias, que vão de um simples cabeleireiro a um heliponto.
Construído nos anos 90 para ser um hotel, o Copa D’Or foi reinaugurado há dois meses. Sua transformação reflete uma tendência que começa a ganhar força nas redes de saúde do Rio e de São Paulo: atendimento mais humanizado e serviços sofisticados que tornam os hospitais aprazíveis e estimulantes para a recuperação dos doentes. “Fizemos de tudo para atenuar o aspecto típico de um hospital”, diz o arquiteto Rodrigo Sambaquy, um dos idealizadores da adaptação do Copa D’Or, empreitada que exigiu investimento de R$ 40 milhões.

Tamanha sofisticação tem o seu preço. A diária de um quarto standard no Copa D’Or é de R$ 300. Quem deseja o requinte da ala vip terá de acrescentar R$ 1 mil à fatura. A maioria da clientela chega a bordo dos melhores planos de saúde. É o caso da empresária Maria de Fátima Amaral, 42 anos. Ela se internou para fazer uma operação no tendão de Aquiles. Já passou por hospitais americanos, mas nunca viu nada parecido: “É o melhor. Tem um aconchegante ambiente de hotel e o atendimento é fantástico.” Nos Estados Unidos, existem instituições que se assemelham a spas e resorts. Um exemplo disso é o complexo hospitalar Baptist, em Miami, embelezado por coqueiros e um lago. Os pacientes desfrutam de uma área de lazer composta de piscina e ginásio. “Tentamos dar todo o conforto possível para que eles se sintam em casa”, afirma Ines Schmidt, supervisora do serviço internacional do Baptist.

Cromoterapia – Conforto para pacientes também é a filosofia do Hospital Santa Catarina, de São Paulo. A UTI adulta foi reaberta na semana passada em novos tons. Com psicólogos para atender doentes e visitantes, a unidade foi pintada de azul claro e areia. As cores foram escolhidas de acordo com os princípios da cromoterapia e teriam a propriedade de tranquilizar as pessoas. “Fizemos o mesmo na UTI pediátrica, com bons resultados”, conta o gerente administrativo Valteci Vicentino da Silva. Pode-se conferir o ambiente mais aconchegante desde a entrada da instituição, onde há um piano de cauda. No hall acontecem apresentações de música popular e erudita. “A instituição é mantida por uma entidade religiosa que procura aprimorar o relacionamento humano no hospital”, emenda.

Essa tendência de humanizar o ambiente vem sendo incorporada por instituições da rede pública, como o Lourenço Jorge, do Rio, e o A. C. Camargo, de São Paulo. Em julho, o hospital paulista modernizou a escola Schwestr Heime, que atende crianças com câncer. Elas ganharam uma brinquedoteca com móveis novos e visual mais bonito. “Num ambiente mais agradável, o desempenho dos pacientes melhora”, explica Genoveva Vello, diretora da escola. No hospital municipal carioca, a estrutura e as cores foram modificadas pelo arquiteto Fábio Bittencourt. As alas do hospital estão de frente para um jardim e as pessoas, estimuladas, se recuperam mais rapidamente. “Isso melhora o estado geral e reduz o tempo médio de internação do doente”, afirma Bittencourt. A área arborizada do Lourenço Jorge trouxe novo ânimo ao carpinteiro Wagner do Nascimento, 43 anos, que se feriu em um acidente de trabalho. Como a maioria da população de baixa renda, ele poderia estar internado num quarto coletivo de um hospital típico da precária rede de saúde pública. “Aqui, o ambiente é menos sofrido”, festeja.