Assista ao trailer:

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FORMIGUEIRO HUMANO
Cenas do filme com Júlio Andrade e Juliano Cazarré, cujo cenário
foi criado a partir de fotos de Sebastião Salgado: pesquisa de cinco mil
imagens e ajuda de 61 bombeiros para evitar acidentes nas filmagens

O garimpo em Serra Pelada, no Pará, ficou mundialmente conhecido pelas imagens de milhares de homens enlameados, cavando a terra em busca de ouro. Três décadas após o auge da exploração no lugar, o mesmo formigueiro de trabalhadores subindo e descendo escadas com sacos nas costas reaparece na tela grande do cinema, só que inteiramente reconstruído em São Paulo. “Serra Pelada”, que estreia no Brasil na sexta-feira 18, usou uma jazida de extração de areia, em Mogi das Cruzes, nas redondezas da capital paulista, para reproduzir a famosa mina que hoje está parcialmente inundada.

O lugar passou por adaptações para se parecer com a maior mineração a céu aberto do mundo e recebeu cerca de 1.600 figurantes. Um pano de fundo caro e trabalhoso para contar a história de Joaquim (Júlio Andrade) e seu amigo Juliano (Juliano Cazarré), que, na história imaginada pelo diretor Heitor Dhalia, partem da região Sudeste em busca de riqueza.

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Para dar vida ao cenário gigantesco, integrantes da equipe do filme sobrevoaram, de helicóptero, várias regiões do País em busca de um buraco de grandes dimensões que pudesse virar a locação. Encontraram a jazida na Mineração Caravelas, a 63 quilômetros de São Paulo, e passaram a trabalhar na transformação. Foi feito um trabalho de contenção na cava de 100 metros de profundidade, seguido de terraplanagem e colocação de escadas. O consultor ambiental Pedro Stech, que ajudou na empreitada, conta que o local escolhido “era uma encosta muito íngreme, mas com um tipo de solo parecido com o de Serra Pelada”. Para a perspectiva da câmera, perfeito. 

Reportagens de tevê e documentários também pesaram na reconstituição. “No início, me perguntava por que ninguém tinha feito esse filme antes. Somente depois fui entender o motivo: é uma produção complexa demais”, afirmou Dhalia. Foram garimpadas mais de cinco mil imagens registradas na década de 1980, muitas delas pelas lentes dos fotógrafos Sebastião Salgado e Juca Martins. A semelhança entre elas e o que se vê no cinema é espetacular. Para o bom resultado, em algumas cenas, de multidão, lançou-se mão dos recursos de computação, garantindo o clima de formigueiro humano.

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Estima-se que no período de maior efervescência a cava tenha concentrado até 80 mil homens. A maioria saiu de lá pior do que entrou porque perdeu a saúde no trabalho insalubre. Por conta de desmoronamentos, cerca de 50 homens morriam por ano em Serra Pelada. O risco nas filmagens também existia e, para evitá-lo, 61 bombeiros trabalharam como figurantes e garantiram a segurança, auxiliando na instalação da teia de escadas. A maquiagem teve papel fundamental para passar realismo. Foi utilizada argila em diversos tons, carvão, anilina, purpurina e até pó de café. “Misturamos argila medicinal com protetor solar, que deu muito certo. Não só pelo efeito, mas também para evitar queimaduras”, conta o diretor de arte, Tulé Peake. O diretor aposta que o público, muitas vezes, terá dúvida se o que está vendo é material de arquivo ou reprodução atual. “É impressionante como eles reconstituíram o ambiente do garimpo. Parece o lugar de fato”, afirmou o geólogo Breno Augusto dos Santos, 73 anos, que na época era o gerente da então Companhia Vale do Rio Doce, responsável pela mina. Como todo mito, o filme terá um tanto de realidade e outro de ilusão. “As imagens de Serra Pelada me marcaram muito na infância”, disse Wagner Moura, que interpreta Lindo Rico, um explorador dos garimpeiros, e também participa da produção, cuja logística e complexidade fizeram o orçamento chegar a R$ 10,5 milhões.