Ao contrário de muitos adolescentes de sua idade, Carlos Eduardo Montovani, o Cadu, 15 anos, adora ir à escola. Às 7h30 ele já está no colégio COC, no Morumbi, bairro nobre de São Paulo, onde cursa o primeiro ano do ensino médio. O segredo para o entusiasmo de Cadu está nos avanços tecnológicos utilizados pela indústria do entretenimento que, agora, começam a invadir as escolas particulares. Realidade virtual, salas de aula onde o computador substitui o caderno e quadros-negros que mostram imagens saltando da tela em terceira dimensão servem para atrair o interesse dos alunos e estimular o ensino. Graças à parafernália eletrônica de sua escola, Cadu pôde fazer passeios inimagináveis na época dos estudos de seus pais, como visitar o interior de uma célula. Para isso, bastaram óculos de realidade virtual que escondem pequenos monitores plugados a um computador manejado por professores. A aula acontece em uma sala escura que mais parece saída de um conto de ficção científica. Os óculos, dependurados no teto por fios, levam os alunos a passeios pela Mata Atlântica, jornadas pelo interior de uma colméia e visitas a museus, entre outras possibilidades.

Outro ambiente que nada lembra escolas tradicionais é a chamada sala do futuro. Lá, cada carteira traz um computador com tela de cristal líquido. O professor dá aula em uma lousa de US$ 18 mil, sensível ao toque de uma caneta especial. Tudo que é escrito nela surge no terminal do aluno e pode ser gravado em um disquete. Para ter acesso a todas essas maravilhas tecnológicas, os pais desembolsam mensalmente, em média, R$ 686, incluindo material didático. Os avanços não param por aí. A presença dos alunos é controlada por meio de leitores de cartões magnéticos. Trabalhos escolares em cartolina, nem pensar. Hoje, Cadu maneja com destreza o programa de apresentação PowerPoint, da Microsoft, ou cria sites na internet para mostrar o que aprendeu aos professores e colegas. “Gasto menos tempo, menos dinheiro e me divirto mais”, comemora. No recreio, nada de bagunça: é hora de checar os e-mails nos computadores. Em casa, ninguém abre livros, mas CDs Rom para estudar. “Os alunos encontram agora as mesmas tecnologias com as quais vão se deparar no mercado de trabalho”, diz Mário Guio Júnior, diretor pedagógico do COC. Uma editora ligada ao colégio é que desenvolve a tecnologia que cativa 80 mil alunos espalhados por 80 escolas do País. Em breve, pretende-se introduzir nas salas de aula a lousa com projeção de imagens estereoscópicas – aquelas que saltam da tela em terceira dimensão e só são visíveis com auxílio de óculos especiais. Outra novidade são as cadeiras de realidade virtual, que mexem de acordo com a imagem vista através dos óculos. “O educador tem de ser multimídia, ou seja, utilizar os melhores meios disponíveis para prender a atenção do aluno e ajudá-lo”, explica o coordenador pedagógico da editora, Zelci de Oliveira. Ele lembra que o professor nunca deve ser substituído pela tecnologia, mas apenas utilizá-la como ferramenta de apoio.

Essa possibilidade, porém, ainda está distante da maioria dos brasileiros. Alunos da rede pública que sonham em ter acesso a simples PCs continuam a mercê da lentidão das ações governamentais, que volta e meia esbarram na falta de verbas. A realidade é outra em colégios como o Objetivo, em São Paulo. Desde a pré-escola, os alunos têm as chamadas aulas do futuro, em salas especiais que, como as do sistema COC, são equipadas com mesas com computadores e as “lousas de toque” (nas quais os professores podem escrever com os dedos). Programas desenvolvidos por professores do colégio usam e abusam de imagens em terceira dimensão que saltam da tela, áudio e vídeo. “Você entende melhor a aula porque tem uma visão espacial melhor do que no livro”, entusiasma-se a aluna da sexta série Júlia Ribeiro Lamardo, 12 anos. Apesar da tecnologia, os métodos antigos não foram abandonados no colégio. Os estudantes continuam fazendo cubos de cartolina para estudar geometria, mas somente depois de terem descoberto como fazer isso com a ajuda do computador. Outros métodos tradicionais de ensino ainda terão de conviver em harmonia com a tecnologia. “O aluno desenvolve a coordenação motora quando escreve à mão e trabalha sua orientação espacial quando organiza um texto em uma folha de caderno, algo que o computador faz sozinho”, avalia a professora Silvia Fichmann, pedagoga da Universidade de São Paulo (USP) especializada em informática educativa. “São habilidades que precisam sempre estar sendo exercitadas.” Também existem alunos que só aprendem quando escrevem. Para eles, deixar de copiar a matéria na lousa seria nocivo. O computador é apenas mais um recurso para o aprendizado, na opinião de Sílvia. Algo, porém, é indiscutível: a atração que a tecnologia exerce. “A escola está competindo com o videogame que o estudante tem em casa. O aluno não pode mais ficar parado em uma carteira olhando para a cara do professor”, garante a pesquisadora.

A vida como ela é

Computadores na sala de aula ainda é uma realidade distante na escola municipal de Vargem Grande, no extremo sul de São Paulo. Os pais de alunos nem pensam nisso. Lá, a falta de água, de professores e salas de aula fala mais alto. Até o ano passado, dois rústicos contêineres de metal funcionavam como classes, já que as dez salas de alvenaria não abrigavam todos os estudantes. Agora, os contêineres deram lugar a cinco salas emergenciais. São construções de metal, com paredes finas, que deixam o ambiente muito frio no inverno e bastante quente no verão. A Secretaria Municipal da Educação afirma não ser possível a construção de salas definitivas porque a escola está localizada em área de mananciais invadida. Há outras 116 salas semelhantes no município. O aluno Wesley de Souza, 11 anos, diz ter visto um computador apenas no trabalho do pai. Sua irmã Rayane, 9 anos, só pela tevê. O que existe na escola mais próximo da tecnologia moderna é uma máquina de escrever elétrica. “Mas aqui deve ser mais fácil aparecer computadores do que professores”, reclama a mãe dos garotos, a desempregada Raquel de Souza, 33 anos. A Secretaria de Educação nega a falta de professores. Os alunos e professores também sofrem com a falta de água. Um caminhão-pipa nunca abastece a escola suficientemente.

Os avanços vistos nas escolas particulares ainda estão longe de chegar ao ensino público. Em parceria com governos estaduais e municipais, o Ministério da Educação tenta equipar 6 mil escolas – 3,2% das 187 mil existentes na rede pública do País – com 100 mil computadores. A meta deveria ter sido atingida este ano, mas cortes no orçamento a adiaram para 2002. Já foram investidos R$ 115 milhões na instalação de 23,4 mil computadores. “É pouco, mas é o que temos no momento”, reconhece a professora Nara Lucas, coordenadora de recursos de informática do Ministério.