Os últimos meses foram marcados pela descoberta de novos planetas fora de nosso sistema solar. Uma das questões mais interessantes, porém, continua sem resposta: afinal, há ou não vida em outros planetas. À luz das novas tecnologias, já é possível avaliar melhor essa probabilidade. A boa notícia é que existem mais de 400 bilhões de estrelas em nossa galáxia, muitas delas com planetas em sua órbita. A má notícia é que, mesmo que esses planetas tenham vida, a probabilidade de existir seres inteligentes parece pequena.
Até recentemente, não se sabia se existiam planetas fora do sistema solar. Uma teoria sugeria que os planetas só se formariam através de uma quase-colisão de estrelas, que arrancasse matéria suficiente de uma delas para se condensar em planetas. Como tais colisões são raríssimas, apostava-se que praticamente não haveria planetas orbitando outras estrelas. Nos últimos meses, saltou de 30 para 50 o número de novos planetas fora do sistema solar, o que desmente essa suposição. Ficamos sabendo que grande parte das estrelas – talvez quase todas – têm planetas.
A mais recente descoberta foi um planeta que orbita a estrela Epsilon Eridani – nome familiar aos fãs de ficção científica. Em Jornada nas Estrelas, é ao redor dessa estrela que está o planeta Vulcano, pátria de senhor Spock, o mais famoso alienígena do cinema. Epsilon Eridani foi também a segunda estrela rastreada pelo projeto Seti, que busca evidências de inteligência extraterrestre. Seu primeiro rebate foi falso: um sinal supostamente originado da estrela foi identificado como experimento militar secreto. Seu charme está em ser a estrela mais próxima de nós com as características que os mais exigentes julgam necessárias para a presença de vida. Em termos humanos, a distância é considerável – sua luz leva dez anos e meio para chegar a nós e as sondas atuais gastariam mais de 100 mil anos para alcançá-la. Em termos cósmicos, Epsilon Eridani está em nosso quarteirão, se não em nosso quintal. Há sete estrelas ainda mais próximas, mas cinco são muito frias e apagadas para ter planetas habitáveis e as outras duas (Alfa Centauri e Sírius) são múltiplas, o que talvez inviabilize planetas com órbitas estáveis.
Para delícia dos fãs de Jornada nas Estrelas, o descobridor do novo planeta se chama William Cochran, quase xará do cientista Zefram Cochrane, que num dos filmes da série faz contato com os vulcanos de Epsilon Eridani. O planeta descoberto é semelhante a Júpiter, mas pode perfeitamente haver outros mais parecidos com a Terra: os recursos disponíveis hoje permitem detectar apenas planetas muito grandes.

Milagre – A espectrografia (análise da composição química através da luz emitida) revela que a estrela é jovem – apenas um bilhão de anos de idade, o que, mesmo aos otimistas, parece insuficiente para a evolução de vida complexa. Alguns acreditam que a existência de vida depende de condições praticamente idênticas às da Terra: exata distância do Sol, mesma composição química e atmosférica, órbita regular e uma Lua grande o suficiente para estabilizar a rotação. Um planeta assim só poderia existir por milagre.
Outros acreditam que a vida pode ser adaptável e existir em condições insuportáveis, de forma que poderia haver até mais de um planeta com vida em cada sistema. Novas descobertas em biologia mostraram a existência de vida nas condições mais difíceis e nos lugares mais improváveis do planeta. Provar que a vida é capaz de sobreviver num determinado planeta não é o mesmo que dizer que ela pode surgir ali. O código genético, mesmo dos organismos simples, é tão complexo que parece difícil ter surgido por acaso – o que favorece a tese de que a vida seria um milagre restrito a nosso planeta. Mas existem teorias recentes explicando como a vida poderia começar com algo mais simples que o DNA. Há também a sugestão de que ela surgiu no espaço interestelar e foi disseminada através de cometas.
A prova dos noves seria a descoberta positiva de sinais de vida em planetas diferentes da Terra. Até agora, possíveis microfósseis num meteorito originado de Marte são o único e duvidoso indício. Fruto de observações, Marte e Europa, uma das luas de Júpiter, são os mais prováveis reservatórios de água fora da Terra. Talvez uma missão tripulada possa esclarecer a questão nos próximos dez anos.

Evolução casual – Décadas atrás, havia a grosso modo duas opiniões sobre o assunto: aqueles para quem a própria vida, inteligente ou não, é um milagre, e os que viam a inteligência humana como decorrência natural da evolução. Bastaria adicionar bactérias a um planeta adequado para conseguir, em alguns bilhões de anos, uma inteligência semelhante à humana — com a mesma certeza com que fermento num vasilhame de leite dá iogurte. Uma terceira posição ganhou força: talvez a vida seja comum, mas não siga uma evolução linear. Cada vez mais, certos eventos-chave da história parecem devidos a acidentes e não a uma lógica inerente à evolução. Os dinossauros eram mais inteligentes e ágeis do que se pensava. Não foram superados por mamíferos mais evoluídos. Foram destruídos por uma colisão cósmica casual. O papel do acaso na evolução parece maior do que se pensava.
Assim, mesmo em mundos idênticos ao nosso, a existência de vida não resultaria necessariamente em seres inteligentes, muito menos “humanóides”. A vida é provavelmente abundante no cosmos, mas ETs inteligentes podem ser raros. Talvez os astrônomos estejam na posição de quem perdeu a chave num beco escuro e procurou debaixo do poste onde havia luz. Talvez outras civilizações usem meios de comunicação ou frequências desconhecidas.
A busca por vida inteligente continua: qualquer um pode ajudar a detectar sinais de vida instalando um protetor de tela para trabalhar dados captados pelo radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico. Em 15 meses, milhares de PCs fizeram o equivalente a 345 mil anos de cálculos. Quem sabe o tão ansiosamente aguardado primeiro contato acontece bem em cima de sua mesa.


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