Brasil é um país de contrastes e, claro, a constatação não é inédita. Ela é óbvia e está à disposição dos olhos. O repórter Thiago Lotufo foi a Teresina, no Piauí, assolada pelo pior surto de meningite dos últimos dez anos. Seu relato, publicado à pág. 46 desta edição de ISTOÉ, traça um quadro bem pouco edificante das condições de saúde de parte da população do País.

Uma das formas de transmissão do vírus da meningite é oral, através de água contaminada. Numa cidade em que apenas 10% da população tem acesso a esgoto tratado e com crescente número de favelas, onde se estima que cerca de 15 mil domicílios não têm banheiro, não é difícil descobrir a causa do mal. Não fosse isso suficiente, a frase que Thiago encontrou na entrada de um hospital em Teresina dá o diagnóstico: "Os homens adoecem porque são pobres. Mantêm-se pobres porque estão doentes e continuam doentes porque são pobres." E não é só no Piauí. A febre amarela ataca em Goiás; a cólera em Alagoas e Pernambuco; e a malária na região amazônica. O Ministério da Saúde não conseguiu fornecer à revista um quadro nítido, com números, da situação. Tudo isso contrasta com a excelência atingida pelo Ministério, por exemplo, no combate à Aids, com seu programa intensivo de educação e distribuição de medicamentos que conseguiu reduzir drasticamente a incidência da doença. Contrasta também com a luta do Ministério em favor da implantação dos medicamentos genéricos, foco da reportagem de Isabela Abdala e Katia Stringueto à pág. 48.

A reportagem de capa desta edição, à pág. 86, também trata de saúde e de excelência. Fala ainda de um brasileiro, Miguel Nicolelis, um cientista de São Paulo que mora na Carolina do Norte, nos EUA. Nascido no bairro da Bela Vista, em São Paulo, Nicolelis está há 11 anos fora do País e suas pesquisas e experiências, usando cobaias e chips, demonstram pela primeira vez que se pode transformar a atividade do cérebro em movimento mecânico. Como um milagre, o fruto do seu trabalho traz concretas esperanças para o futuro de pessoas deficientes ou paralíticas. Para Darlene Menconi, subeditora de Ciência & Tecnologia, ele comentou: "Assim como outros cientistas brasileiros que vivem fora, meu trabalho continua praticamente desconhecido no Brasil."