A onda ecológica e a sede de adrenalina têm lançado muita gente em aventuras nem sempre bem-sucedidas. Grande parte dos esportistas tem pouco preparo e, em vez de músculos e disposição, acabam ganhando gesso, pinos e dores. A maioria começa fazendo trilhas como se estivesse passeando no parque. O equívoco pode gerar tragédias. No domingo 20, no Pico do Jaraguá, em São Paulo, pai e filho morreram ao cair de uma altura de 25 metros. No mesmo dia e local, um grupo do Clube dos Desbravadores, movimento juvenil ligado à Igreja Adventista do Sétimo Dia, se desviou da trilha e teve de ser resgatado por bombeiros. No Rio de Janeiro, dois pilotos de asa-delta e parapente colidiram no ar e, por sorte, sofreram apenas ferimentos leves. Ainda no domingo, dois turistas franceses se perderam na Floresta Amazônica.

O que se percebe é que as pessoas se arriscam confiando na sorte. Segundo familiares, Milton Gomes de Toledo, 54 anos, e seu filho, Gilberto Gomes, 14, mortos no acidente do Jaraguá, visitavam sempre o Parque do Jaraguá. Portanto, conheciam o local ou pensavam que conheciam, o que pode ter servido para baixar a guarda. O excesso de auto-confiança é uma das maiores causas de acidentes desse tipo. O mesmo pode ter acontecido com o líder do grupo dos Desbravadores, que transformou um passeio no parque em uma caminhada até o pico. “Ele não seguiu as normas, como conhecer previamente o local e planejar a atividade”, reconhece o pastor Raimundo Venefrides, coordenador regional do movimento.

O sucesso dessas empreitadas depende, acima de tudo, de treinamento e capacidade de prever incidentes. “Diminuem-se os riscos com planejamento e conhecimento da área e da atividade”, ensina James Lynch, da Outward Bound Brasil, organização não-governamental especialista em atividades ao ar livre com adolescentes. O mínimo que se deve exigir de um guia são noções básicas de orientação e primeiros-socorros. “Tem gente que não leva nem água”, observa Lynch. Na Floresta da Tijuca, no Rio, por exemplo, os guardas costumam barrar exploradores de última hora. “Trilha é uma atividade de risco. Quem não tem experiência deve procurar um guia profissional”, recomenda o diretor do parque Pedro Cunha Menezes.

Se uma simples caminhada pela mata pode ser fatal, imagine o perigo de esportes movidos a adrenalina. É cada vez mais comum encontrar mochileiros de fim de semana que saem direto do escritório ou da escola para descer corredeiras, se pendurar em montanhas, saltar rampas ou mergulhar em mares desconhecidos. A publicitária Cássia Garcia, 28 anos, primeiro mergulhou e depois fez um curso. Só aí percebeu o quanto foi irresponsável. “Vi que não sabia nada. Mergulhei 18 metros logo de primeira.” Muitas precauções e cuidados ainda são desconhecidos, como respeitar as próprias limitações, não desafiar as condições climáticas, checar o equipamento. Na dúvida, desista.

Os conselhos vêm de um especialista em fazer imensos picos parecerem montes de areia: Waldemar Niclevicz, 34 anos, primeiro alpinista brasileiro a atingir o topo do K2, a montanha mais perigosa do mundo, no Paquistão. Ele se espanta com as imprudências que vê por aí. “Usam até corda de amarrar caminhão para escalar E não aceitam conselhos”, conta Niclevicz.

Como expert no assunto, o alpinista sabe a hora de parar. Ele já desistiu do K2 em duas outras tentativas por causa do mau tempo. Fez o mesmo na parede mais perigosa do Aconcágua, na Argentina. “A vida é mais importante que uma montanha”, conclui Niclevicz. Outro maluco por esportes alternativos é o instrutor Auro Miragaia, 36 anos, 20 de aventuras. A experiência não o livrou de um enorme susto. Certa vez, ele espatifou-se com a asa-delta num coqueiro e ficou três dias sem memória. “Tive sorte”, diz Miragaia.

É quase impossível achar algum aventureiro que nunca tenha ao menos sofrido uma queda. Todos esses esportes são chamados de radicais exatamente porque oferecem riscos. E é isso que seduz profissionais e desportistas de ocasião. A diferença entre eles é que os primeiros conhecem e respeitam os riscos e têm como maior desafio anulá-los e não se expor a eles.

Colaboraram: Lia Bock (SP) e Letícia Helena (RJ)