Estrelas estrangeiras costumam presentear o Brasil com passagens anedóticas e muitas vezes trágicas, como prova a infeliz experiência tropical da diva francesa de teatro Sarah Bernhardt. Quando ela veio ao Rio de Janeiro apresentar a Tosca, em 1905, voltou a Paris com a perna direita quebrada, resultado de um salto no fosso do palco sem a devida proteção de colchões amortecedores. O episódio, nunca esclarecido, é um dos momentos chaves de Amélia – cartaz nacional –, que marca a volta às telas da cineasta Ana Carolina, depois de 12 anos. Na versão da autora de Mar de rosas, o acidente foi provocado pelas três costureiras mineiras à disposição da atriz, num gesto de vingança pelo não-pagamento de seus serviços. Tudo mentira, claro. Mas tão bem sacado que passa perfeitamente como real.
De acordo com o filme, Francisca (Miriam Muniz) e Oswalda (Camila Amado), matutas mineiras de Cambuquira, foram contratadas pela irmã Amélia (Marília Pêra), camareira de Sarah Bernhardt (Béatrice Agenin), para cuidar das rendas e brocados da patroa em sua estada no Rio. Na oportunidade, Amélia trataria com as irmãs a venda de suas terras em Minas. Acontece que, em Buenos Aires, a camareira morre de febre amarela. Suas irmãs, mais a agregada Maria Luiza (Alice Borges), se vêem então diante de uma verdadeira “pororoca cultural”. Sem entender o francês, os caprichos e as boas maneiras da diva, protagonizam o que Ana Carolina chama de uma “comédia de desentendimentos”. Embora bem cuidado, o filme tinha tudo para ser uma cáustica metáfora das relações entre primeiro e terceiro mundos. Mas a boa idéia inicial não decola, terminando com sabor de piada conhecida.