Resgatada de um mundo sonoro no qual as batidas graves cravam como estacas no coração, a banda inglesa Morcheeba surgiu no verão inglês de 1995 como um bálsamo para quem enfrenta as dificuldades de ser moderno. Concentrado na divisão tecno que se convencionou chamar de trip hop – som de características neopsicodélicas, com influências da soul music –, que tem o também inglês Tricky como expoente máximo, o grupo natural da suburbana Kent reinou em concertos lotados, ganhando prestígio no mundo pop. Foram dois álbuns badalados, Who can you trust (1996) e Big calm (1998), dentro de um clima beirando o melancólico, o sombrio, com uma sonoridade estranha, mas extremamente agradável para curtir na calmaria do lar. Pois o trio formado pelos irmãos Paul e Ross Godfrey e pela cantora Skye achou que era o momento de mudar e gravou Fragments of freedom. “Estávamos cheios da nossa amargura. Percebemos que toda aquela autoflagelação não correspondia à nossa verdade”, diz Paul. A declaração é um pouco exagerada, mas dá para entender que o Morcheeba queria viver algo mais divertido.

Paul passou a ouvir mais ainda rhythm’n’blues, Skye cavucou os discos de Stevie Wonder e todos concordaram em convidar os rappers Bahamadia, Mr. Complex e Biz Markie. A movimentação resultou num disco mais palatável ao gosto pop, com certos paradoxos de ritmo, mas com certeza mais alegre. A marca Morcheeba está presente ao longo do CD na delicadeza em pilotar programações eletrônicas e, principalmente, na voz macia de Skye, que eleva o clima “viajante” às estrelas. Acrescentar elementos do som disco e do funk, usar cordas bastante oportunas e brincar na fronteira do acústico com o eletrônico também encaixam Fragments of freedom entre os lançamentos bem-vindos.