Fascinado pela variedade musical planetária, tendo criado um selo dedicado à revelação de artistas fora do eixo Europa–Estados Unidos, o cantor e compositor inglês Peter Gabriel poderia ser facilmente confundido com um chato protetor da chamada world music. O que seria um grande equívoco. Mais que defender uma preservação museológica de gêneros de música milenares, Gabriel parece interessado no estilo miscigenado que junta elementos de várias culturas gerando algo completamente novo e inclassificável. O melhor exemplo é Ovo, 12º álbum do ex-vocalista do Genesis, que não lançava um trabalho de estúdio desde 1992. Produzido para o espetáculo multimídia que na passagem do ano inaugurou o Millenium Dome de Londres, Ovo – nome do filho de uma mulher com um extraterrestre – fala da evolução humana e dos dilemas frente ao futuro. Uma historinha boba, mas embalada por uma trilha de primeira.

Como um maestro planetário, Gabriel cruzou ritmos celtas e africanos, rock, rap e eletrônica. Casou instrumentos típicos de vários países como tablas indianas e didgeridoo australiano com belos arranjos de cordas. Também selou parcerias improváveis ao promover, por exemplo, o encontro de Elizabeth Fraser, ex-vocalista da banda escocesa Cocteau Twins, do soulman Richie Havens e do cantor Paul Buchanan, do grupo também escocês Blue Nile – vozes que ele adora. Mas o que contou mesmo foi o acabamento de mestre de Gabriel, que alinhavou o álbum com os últimos recursos da tecnologia. E o melhor, ele continua cantando que é uma maravilha. Ao final das 12 faixas, à primeira audição estranhas e disparatadas, o todo ganha a unidade dos grandes discos.