No campo da arqueologia, as nossas caveiras revelam o que nós fomos – e quase sempre nos apresentam com exatidão a nossos ancestrais. Sorridentes, vez ou outra elas gostam, no entanto, de pregar uma peça à comunidade científica e dar-lhe uma pista falsa. Pesquisadores e arqueólogos se desesperam, mas aí vem outra caveira descoberta e recoloca a linhagem humana no lugar. Uma das primeiras e grandes reviravoltas na história da humanidade começou em outubro de 2004 quando um grupo de cientistas australianos acreditou ter encontrado vestígios de uma nova espécie que teria vivido na ilha de Flores, na Indonésia, há 18 mil anos. Tratava-se do Homo florensiensis. Em 2005 a antropóloga Dean Falk, da Universidade da Flórida, afirmou que esse Homo florensiensis se assemelhava mesmo ao Homo erectus e que seu cérebro, apesar de pequeno, tinha alta capacidade cognitiva. Traduzindo: o chamado homem das cavernas não teria sido tão ignorante como imaginávamos. Os cientistas ainda festejavam a descoberta quando uma nova caveira desfez a festa: localizada na caverna de Liang Bua, sugeria que o Homo florensiensis não era uma espécie nova mas, sim, um homem moderno com deformidades no crânio. A antropóloga Dean volta à cena agora com um preciso raio X do cérebro do Homo florensiensis. E comprova que se trata realmente de uma nova espécie. Ou seja: com essa recente descoberta, a ciência está novamente no caminho certo.

Esse novo estudo foi publicado na semana passada no Proceedings of the National Academy of Sciences. Para mostrar que o Homo florensiensis não era um homem moderno que sofria de microcefalia, Dean construiu imagens em três dimensões das caixas cranianas de dez indivíduos normais e de outros dez portadores dessa doença. Em seguida foram modelados crânios virtuais de pigmeus e o crânio do esqueleto descoberto na Indonésia. “Ficou evidente. Os resultados indicam claramente que esse homem tinha um cérebro normal e que estamos diante de uma espécie nova de humano dentro da evolução antropológica da humanidade”, diz ela.

Os cientistas pensavam, até então, que depois da extinção do homem de Neanderthal, há 30 mil anos, o Homo Sapiens era a única espécie humana sobrevivente. Agora sabe-se que houve um intermediário – um primo distante com cérebro pequeno. A antropologia dá assim um enorme passo para frente. A sorridente caveira da ilha de Flores não nos pregou uma peça.

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